Sistelo está na moda, agora mais limpa e arranjada que nunca, com as obras que foram entretanto realizados no restauro e melhoramento de várias edificações, com mais gente nas ruas e muitos visitantes que entopem os acessos e esgotam os parcos estacionamentos.
O dia estava ótimo para caminhar, soalheiro e uma temperatura moderada convidava a caminhar, pelo que logo após o agrupamento atravessamos a aldeia, passando pelo fontanário, pelo núcleo de espigueiros, agora totalmente recuperado, pelo “Castelo” de Sistelo, em fase de recuperação, até á pequena igreja paroquial de Sistelo, que remonta ao séc. XV.
Daí descemos o ingreme e traiçoeiro escadório que nos levou às margens do rio Vez, que cruzamos por uma ponte metálica, tendo rumado a montante pela sua margem direita, primeiro por um aprazível e verdejante socalco, para de seguida subir por uma antiga calçada e infletir à direita, apanhando a calçada principal que dá acesso à ponte medieval de Sistelo.
Fizemos uma breve paragem junto à ponte, para observar os moinhos e as águas revoltas do Vez e lá em cima a igreja e muro do cemitério, empoleirados na ingreme encosta onde assenta a aldeia de Sistelo.
Seguimos rio acima, agora pela margem esquerda, ganhando altura para atingir mais adiante a EN 304, que cruzamos, começando logo a seguir a penosa subida para Padrão, seguindo sempre velhas calçadas ladeadas de muros de pedra, que serpenteiam por entre os socalcos que se vão sobrepondo sucessivamente, numa gigantesca escadaria.
É uma paisagem espetacular que se vai revelando diante de nós, impondo enorme respeito pelo esforço despendido na sua edificação e manutenção até aos nossos dias. As dezenas de socalcos evidenciam a fertilidade destes solos para a agricultura, única fonte de rendimento destas remotas povoações de montanha.
“É uma terra marcada pela geografia e pela história, dos homens que a pulso construíram o seu território, e sabiamente o estruturaram e organizaram. As fortes diferenças de declive originaram microclimas distintos, que estão diretamente associados quer às diferenças de altitude, quer às disponibilidades hídricas e de insolação, que distinguem claramente as áreas profundas e encaixadas do Vale do Vez e corgas adjacentes, das áreas de montanha e alta montanha, que se aproximam do topo aplanado da Serra da Peneda.” (1)
“A criação de gado bovino da “raça Cachena” foi um dos pilares mais importantes da economia familiar destas comunidades serranas, o que associado à exiguidade dos espaços férteis de vale, e a forte disponibilidade de pastos de alta montanha, passíveis de exploração, foram pontuando a serra de currais e "brandas", lançando bases para a estruturação de um uso transumante e sazonal do espaço, entre as áreas baixas de vale e as áreas de alta montanha.” (1)
Chegados a Padrão fizemos uma paragem para observar a eira onde se encontra o lavadouro comunitário no meio de um razoável número de velhos espigueiros, muitos em estado deplorável, em que só a robusta estrutura de granito resistiu à inclemência do tempo. Outros aproveitaram para retemperar energias no minúsculo “Quiosque de Sabores Regionais”, que serviu uns pastéis de bacalhau e pataniscas, regados com uma malga de verde tinto caseiro e café para rematar. Pelos vistos também faz cozido à portuguesa por encomenda, pelo que encaramos desde já a hipótese de lá voltar, para ver se o cozido faz jus à riqueza destas terras.
Padrão foi a primeira povoação a ser criada nestas longínquas paragens do Vale do Vez. Foi uma póvoa medieval, fundada por Roy Pelais de Val de Vez, até que D. Afonso III em 1271 lhe deu Carta de Foro, tendo sido concessionada a seis casais e seus sucessores, que se comprometeram a povoar e trabalhar as terras do então "monte ermo" de Padrão (Padron). (2) Só depois surgiram as restantes povoações, entre as quais Estrica, Portela do Alvito, Porta Cova e Sistelo, que mais tarde se veio a tornar a sede da freguesia.
Rumamos de seguida a Porta Cova, continuando a travessia dos socalcos habilmente escavados nas ingremes vertentes, tendo a rara oportunidade de ver o semeio do cebolo por uma anciã e mais à frente o uso de juntas de bois no amanho dos campos.
Foi junto à ponte de Porta Cova e do núcleo de espigueiros comunitários que tiramos a foto de grupo, antes de encetar o regresso pelo caminho que tomamos até uma alminhas, onde está à bifurcação da ponte do rio Vez.
Começamos então a descida do rio, pela margem direita, apreciando a riqueza da paisagem, com as aldeias de Porta Cova e Padrão a dominar os verdejantes socalcos que vão descendo até ao rio. Mais à frente iniciamos a subida para a aldeia de Paço, já na freguesia de Merufe, concelho de Monção, que atingimos cruzando estreito trilho por entre socalcos.
Esta é também uma aldeia típica de montanha, com um núcleo coeso de habitações e cortes de animais em alvenaria, dispondo-se em seu redor uma série de socalcos de cultivo, até ao rio Vez, que separa o concelho de Monção do de Arcos de Valdevez.
Como se aproximava a hora da refeição seguimos por entre os campos de cultivo e estrada municipal até Portela de Alvite, onde fizemos a já tardia refeição no parque de merendas junto ao recinto da feira de gado, em que as freguesias de Merufe e de Sistelo promovem conjuntamente a Feira Tradicional da Portela de Alvite, certame que compreende uma feira do garrano, concurso de gado, corridas de cavalos, encontro de folclore, cantadores ao desafio, noite de rusgas, atuação de ranchos folclóricos e grupos de bombos.
A pausa foi aproveitada para o batismo solene de mais três companheiros. Desta vez a honra coube ao Sebastian Beseau, Amélia Oliveira e Elsa Malheiro, que apadrinhados pelos caminheiros seniores Isabel e Armando passam a integrar a elite dos Caminheiros Vianatrilhos.
Passado o ato solene iniciamos a subida para Estrica, desfrutando das vistas para o vale do rio Vez, e para os socalcos de Sistelo, Padrão e Porta Cova, vislumbrando-se também a nível superior a branda do Alhal e ao fundo toda a serra da Peneda. Um panorama deslumbrante este o do miradouro da Estrica!
A parir daqui, cruzamos o lugar de Estrica e tomamos o PR 27 – Trilho do Miradouro da Estrica, descendo por denso e inclinado carvalhal alvarinho até à Ecovia do rio Vez, perto da ponte que marca o seu término.
Como ainda era cedo, decidimos descer o rio pela ecovia até ao açude que dá acesso à ermida da Srª dos Aflitos, obrigando os nossos companheiros a refrescar os pés na travessia das frias águas do Vez.
Se até aí só nos tínhamos cruzado com um grupo de caminheiros galegos, procedentes de Lugo e alguns poucos locais que trabalhavam a terra, a ecovia mais parecia uma autêntica romaria! Impressionante o número de passeantes que aproveitaram o fim-de-semana para fazer a ecovia, ou pelo menos passear um pouco e refrescar-se nas muitas sombras e nas cristalinas águas do Vez.
Secos os pés e calçadas as botas iniciamos finalmente o regresso a Sistelo, subindo a margem esquerda do rio pela ingreme calçada, para finalmente atingir o largo da aldeia e sentar um pouco defronte do cruzeiro.
Situado às portas do Parque Nacional da Peneda-Gerês, a aldeia de Sistelo integra a Rede Natura e passou em Dezembro de 2015, a ser classificada como “monumento nacional a Paisagem Cultural da Aldeia de Sistelo”, pelo que ganhou uma notoriedade que indubitavelmente pôs Sistelo no mapa.
Sistelo está na moda!
O lavar dos cestos foi desta vez em Estorãos no café Beira Rio, com uns acepipes variados empurrados com champarrião bem fresquinho e muita conversa.
José Almeida(1) Sistelo, entre o Vale e a Montanha - Fernando Cerqueira Barros
(2) Construção do Território e Arquitetura na Serra da Peneda - Fernando Cerqueira Barros
Informação sobre os aspetos mais significativos:
Data | 2019-04-27 |
Hora de início | 09:21 |
Hora do fim | 16:19 |
Tempo total do percurso | 6h 57m |
Velocidade média deslocação | 2,4 km/h |
Distância total linear | 12,2 km |
Distância total | 12,4 km |
Nº de participantes | 22 |