2013-01-12 Caminhando pela Serra de Santa Luzia

Santa Luzia dos meus amores,

Santa Luzia bonita és,

Santa Luzia dos meus olhares,

Linda Viana tens a teus pés.

Começamos em São Mamede - terra de mel, na serra de Santa Luzia, desta vez envolta num manto ameaçador, que não augurava nada de bom, quanto ao estado do tempo para esta nossa jornada.

O início foi no adro da capela de S. Mamede, onde decorre a tradicional  festa dos caçadores ou do mel, como em tempos era mais conhecida e que leva multidões ao ponto mais elevado da freguesia de Areosa, onde se mantêm a tradição de levar o merendeiro, no domingo da festa em redor da Capela.

Tirada a foto de grupo, enquanto o tempo o permitiu, dirigimo-nos para a Aldeia Velha de S. Mamede, tendo passado na “casa do padre” e feito a primeira paragem na sua capela em ruínas, perdida no meio da densa vegetação que a cerca.

Muitas são as dúvidas sobre a origem desta aldeia, há muito abandonada, local onde segundo alguns, teria existido no Sec XIII, a eclesia de Santo Fiiz, entretanto completamente desaparecida.

O percurso levou-nos ao Lugar do Real, tendo depois aproveitado muito do percurso aberto pelo Grupo BTT Rampinhas, cujo meritório trabalho, em muito beneficiou os abandonados caminhos rurais, perdidos na serra de Santa Luzia.

O tempo é que não colaborava. A chuva teimava em cair, obrigando o recurso aos impermeáveis e guarda-chuvas e prejudicando definitivamente as vistas, que se adivinhavam soberbas.

Chegados ao degradado estradão do Lajão fizemos uma breve paragem, para meter qualquer coisa à boca, tendo o Miguel desafiado para uma visita à “rapa das bestas”.

Só quem sabe dá com o local, hoje tomado pela vegetação, que o escondeu quase completamente.

Foi no regresso que demos por falta da companheira Louise, que tendo-se aventurado no mato sozinha, se desorientou e perdeu do grupo, tendo tardado em reaparecer, já bastante abalada com o susto.

No Lajão fizemos o reagrupamento e após curta paragem, continuamos na direcção da Areosa, sendo o nosso destino a capela da Boa Viagem, defronte da quinta do mesmo nome, onde estava planeada a pausa de almoço.

O local revelou-se muito bem escolhido, pois o tempo continuava turvo e apostado em não colaborar.

No fim da refeição teve lugar uma breve evocação do malogrado Duarte Sá Coutinho, com a leitura de uma missiva do seu filho André e a leitura conjunta de poema (ver em pormenor abaixo).

Mas como a vida continua, celebrou-se festivamente o aniversário do Manuel Rego, com bolo, champanhe e sonoro coro de parabéns, que nos inspirou e retemperou para a parte da tarde do percurso, que continuava chuvosa.

Voltamos a atravessar para a margem esquerda do ribeiro do Pego, subimos para o caminho de acesso à estação de captação de água do Pego, onde pudemos apreciar o belo enquadramento do Poço Negro e dos muitos moinhos que bordejavam o ribeiro.

Foram 36 os moinhos que labutaram só no ribeiro do Pego, hoje todos abandonados e muitos totalmente degradados, testemunhas dos tempos em que a moagem e farinação do milho produzido nas veigas da Areosa, eram o motor de progresso da região.

Seguimos até à estação de captação, não tendo contudo continuado, face ao estado do tempo, que tornava a progressão pela margem demasiado perigosa, tendo optado por regredir até à imediação da Cruz do Pego, mesmo defronte ao castro do mesmo nome, subindo depois a encosta, para o estradão florestal.

Rumamos depois para S. Mamede, com tempo ainda tempo para um pequeno desvio à Azenha Velha e à vizinha queda de água.

O regresso fez-se pela luxuriosa mata, mesclada pelo castanho das folhas caídas e o verde musgo dos ancestrais muros, que ladeiam o caminho de acesso ao povoado.

José Almeida

Vianatrilhos

Recordando Duarte de Sá Coutinho

Foi na pausa de almoço, aproveitando o recato e protecção da galilé da capela da Boa Viagem, na Areosa, que um grupo dos amigos mais próximos evocou o malogrado companheiro Duarte Nuno Saraiva de Sá Coutinho.

Nascido em 30 de Setembro de 1942, teve pela mão do seu amigo Mesquita o baptismo nesta modalidade a 3 de Janeiro de 2004, na “Marcha ao Pé de Cabril” no Geres, tendo a sua última participação ocorrido a 26 de Setembro de 2009, na “Pelas Margens do Rio Vizela”, já então algo limitado pela doença que o viria a derrotar.

O companheiro Mesquita aproveitou o ensejo para nos fazer um breve relato do seu percurso de vida: do que fez, por onde passou, do que gostava e dos que mais queria, fazendo uma menção especial pela sua passagem pelo “vianatrilhos”.

Foram 6 anos de animada companhia e companheirismo, em que para além do passeio, adorava uma boa conversa, em que amiúde ia ao rubro na política e até se excedia quanto ao tema do seu querido Benfica.

Foram bons tempos, cortados pela doença, mas sempre recordados pelo amigo Sá Coutinho, que fez questão de que a sua camisola “vianatrilhos” o acompanhasse ao sepulcro, nessa sua derradeira caminhada pela vida. Em 3 de janeiro de 2013.

Terminou-se esta singela evocação, com a leitura da missiva do seu filho André em que “agradece a homenagem prestada ao meu pai no site e, como enorme entusiasta das vossas caminhadas, não poderia estar mais feliz, aquando daquele instantâneo capturado e publicado.”

“Por fim agradeço a todos os companheiros de caminhadas, os excelentes momentos que proporcionaram ao meu pai, e que ele relatava em casa com um entusiasmo de criança.

Muito obrigado!”

Seguiu-se a leitura conjunta do belíssimo poema “Amigos”, rematado com outro do mesmo autor e mestre Fernando Pessoa.

Um dia a maioria de nós irá separar-se.

Sentiremos saudades de todas as conversas atiradas fora,

das descobertas que fizemos, dos sonhos que tivemos,

dos tantos risos e momentos que partilhámos.

Saudades até dos momentos de lágrimas, da angústia,

das vésperas dos fins-de-semana, dos finais de ano, enfim...

do companheirismo vivido.

Sempre pensei que as amizades continuassem para sempre.

Hoje já não tenho tanta certeza disso.

Em breve cada um vai para seu lado,

seja pelo destino ou por algum desentendimento, segue a sua vida.

Talvez continuemos a encontrar-nos,

quem sabe... nas cartas que trocaremos.

Podemos falar ao telefone e dizer algumas tolices...

Vamo-nos perder no tempo...

Um dia os nossos filhos verão as nossas fotografias e perguntarão:

Quem são aquelas pessoas?

Diremos... que eram nossos amigos e... isso vai doer tanto!

- Foram meus amigos, foi com eles que vivi tantos bons anos da minha vida!

A saudade vai apertar bem dentro do peito.

Vai dar vontade de ligar, ouvir aquelas vozes novamente...

Quando o nosso grupo estiver incompleto...

reunir-nos-emos para um último adeus a um amigo.

E, entre lágrimas, abraçar-nos-emos.

Então, faremos promessas de nos encontrarmos mais vezes daquele dia em diante.

Por fim, cada um vai para o seu lado

para continuar a viver a sua vida isolada do passado.

E perder-nos-emos no tempo...

Por isso, fica aqui um pedido deste humilde amigo:

Não deixes que a vida passe em branco,

e que pequenas adversidades sejam a causa de grandes tempestades...

Eu poderia suportar, embora não sem dor,

que tivessem morrido todos os meus amores,

mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos!

O valor das coisas não está no tempo que elas duram,

mas na intensidade com que acontecem.

Por isso existem momentos inesquecíveis,

coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis.

Fernando Pessoa

Dados do percurso

Informação sobre os aspetos mais significativos:

Data 2013-01-12
Tempo de deslocação 04h 45m
Tempo parado 01h 59m
Deslocação média 3,4 Km/h
Média Geral 2,4 Km/h
Distância total linear 16.3 km
Nº de participantes 29