2006-04-22 Trilho da Ponte de Misarela

Este percurso teve o seu início em Sidrós.

Segue-se a placa que indica Ponte da Misarela, a calçada passa pelas alminhas. Desce-se até à Ponte, sobre o rio Rabagao, por caminho panorâmico.

Por aqui retirou o exército do General Soult a 17 de Maio de 1809, à perseguição das forças de Wellesley, num dos episódios das Invasões Francesas. A espectacularidade da sua implantação mereceu o epíteto de «Ponte do Inferno» ou «do Diabo».

É uma ponte de arquitectura medieval, extravagante, louca, de um só arco, com mais de 13 m de vão, lançada com arrojo sobre dois rochedos, onde as águas do Rabagão se estreitam, vencendo a profunda ravina cortada na rocha do vale alcantilado, se despedaçam com fragor e saltam a grande altura, transformando-se em vaporosa chuva em dias de tenebrosas enchurradas que impressionam pelo rumor das águas, refervendo em sucessivas cachoeiras entre enormes penedos suspensos. Fica no fundo de um desfiladeiro alcantilado, a um quilómetro da confluência do Rabagão com o Cávado. Tão medonho e agreste é o sítio e tão severo o aspecto da ponte, que a vivíssima imaginação do povo não tardou a tecer-lhe lendas.

Depois de atravessada, seguimos pelo caminho (calçada) que começa a subir virado a noroeste. Estamos num caminho medieval que serviria para ir de Braga a Montalegre.

Atravessamos a estrada nova e seguimos depois sempre a meia encosta pela margem da barragem, até atingir a as primeiras casas de Frades.

No cruzamento em que há uma placa com informação de percurso, para visita à Ponte da Misarela saímos do caminho, descendo à direita e aproximamo-nos do nível da albufeira.

Passamos pouco depois em frente da grande cascata da ribeira de Pincães e logo a seguir sobre uma maciça ponte de pedra.
Após um carvalhal começa mais uma subidinha que nos leva mais à frente, à deslumbrante cascata do Saltadouro.

Depois das inevitáveis fotos e apreciar o local da antiga ponte, agora afundada na albufeira, rica de história por aí se ter passado um macabro episódio na retirada dos invasores franceses, em que pela noitinha degolaram os vigias da ponte, proporcionando ao seu exército a retirada, que lhes era negada pela destruição das várias outras pontes.

Depois das inevitáveis fotos seguimos o trilho, atravessando umas linhas de água, mas pouco depois este alarga e proporciona o acesso à albufeira, local onde fizemos a pausa para o almoço.

O tempo estava quente, o sol forte e a paisagem excelente, tendo como pano a Cascata do Saltadouro, o que nos proporcionou agradável pausa, temperada com o baptismo de um novato destas andanças.

Custosa foi a partida, mas lá fomos subindo, virado a Norte, pelo caminho principal chegando junto à capelinha e ao café O Veigas.

Depois de todos agrupados fomos até à Fraga da Pena Má, local verdadeiramente espectacular.

São dois enormes maciços de granito que se erguem a par numa altura de 70 a 80 m, alcantilados e com alguns arbustos nas frestas; no pequeníssimo espaço entre estas duas «colunas» despenha-se um regato, particularmente caudaloso no Inverno. Estas rochas são, segundo a crendice popular, um local onde dão os "passes" para a cura de doenças em crianças dos 2 aos 5 anos.

José Almeida

Amigos da Chão

Lenda da Misarela

Havia um homem mau em terras de Além Douro, a quem a justiça, encarniçadamente perseguia, por vários crimes e que sempre escapava, como conhecedor que era dos esconderijos proporcionados pela natureza.

Apertado, porém, muito de perto, embrenhou-se um dia no sertão e, transviado, achou-se de repente à borda de uma ribeira torrencial, em sítio alpestre e medonho, pelo alcantilado dos penedos e pelo fragor das águas que ali se despenhavam em furiosa catadupa. Apelou o malvado para o Anjo-Mau e tanto foi invocá-lo que o Diabo lhe apareceu. "Faz-me transpor o abismo e dou-te a minha alma", disse-lhe.

O Diabo aceitou o pacto e lançou uma ponte sobre a torrente.

O réprobo passou e seguiu sem olhar para trás como lhe fora exigido, mas pouco depois sentiu um grande estrépito, como de muitas pedras que se derrocavam, e ninguém mais ouviu falar da improvisada ponte. Os anos volveram e, enfim, chegou a hora do passamento. Moribundo e arrependido, confessou a um sacerdote o seu pacto.

Este, querendo fazer uma pirraça ao Diabo, disfarçou-se em salteador perseguido petas justiças de Montalegre, e foi certo dia, à meia-noite, àquele lugar para passar o rio. Como o não pudesse passar, por meio de esconjuras, invocou o auxilio do inimigo.

Ouve-se um rumor subterrâneo e eis que aparece, afável e chamejante, o anjo rebelde:

Miradouro,

- Que queres de mim? - perguntou ele.

- Passa-me para o outro lado e dar-te-ei a minha alma. Satanás, que antegozava já a perdição do sacerdote, estendeu-lhe um pedaço de pergaminho garatujado e uma pene molhada em saliva negra, dizendo

- Assina!.

O padre assinou. O Demónio fez um gesto cabalístico e uma ponte saiu do seio horrendo das trevas.

O padre passa e, enquanto o diabo esfrega um olho, saca da caldeirinha da água benta, que escondera debaixo da capa de burel, e com um ramo de alecrim, molhou-o na caldeirinha, e asperge com ela três vezes a infernal alvenaria, fazendo o sinal da cruz e pronunciando bem vincadas as palavras sacramentais do exorcismo.

Lúcifer, logrado, deu um berro bestial e desapareceu num boqueirão aberto na rocha, por onde saíram línguas de fogo, estrondos vulcânicos e fumos pestilenciais, deixando o ar cheio de um vapor acre e espesso, de pez e resina, de envolta com cheiro sufocante de enxofre, ficando de pé a ponte"...

 

in: wikipedia

Os Baptizados da Meia-Noite

O vulgo das redondezas, na sua ignorância e ingenuidade, e não sabemos a origem, aproveita-se da ponte para ali exercer um rito singular.

Quando uma mulher, decorridos que sejam dezoito meses após o seu enlace matrimonial, não houver concebido, ou, quando pejada, se prevê um parto difícil ou perigoso, não tem mais que ir à Misarela, à noite, para obter um feliz sucesso. Ali, com o marido e outros familiares, espera que passe o primeiro viandante.

Este é então convidado para proceder à cerimónia, a qual consiste no baptismo in ventri do novo ou futuro ser. Para isso, o caminhante colhe, por meio de uma comprida corda com um vaso adaptado a uma das extremidades, um pouco de água do rio e com a mão em concha deita-a no ventre da paciente por um pequeno rasgão aberto no vestuário para este efeito, acompanhando a oração com a seguinte ladainha:

Eu te baptizo
Criatura de Deus,
Pelo poder de Deus,
E da Virgem Maria.
Se for rapaz, será "Gervás";
Se for rapariga, será "Senhorinha".
Pelo poder de Deus e da Virgem Maria,
Um Padre-Nosso e uma Avé-Maria.

O barulhar iracundo da cachoeira no abismo imprime a estas cenas um cunho de tétrica magia.

Segue-se depois uma lauta ceia, assistindo, geralmente, o improvisado padrinho. E o êxito é completo: um neófito virá alegrar a família.

Claro que se na primeira noite não passar o viandante desejado a viagem à Misarela repetir-se-á até o cerimonial se realizar nas condições devidas.

De um dos lados ergue-se um enorme rochedo que o povo denominou "Púlpito do Diabo", por crer que o Demo vai ali pregar à meia-noite, quando as bruxas das redondezas se reúnem em magno concílio..."

 

in: excerto do romance histórico "O mutilado de Ruivães - Das invasões francesas às lutas civis", de Mário Moutinho e A. Sousa e Silva, Braga, 1980

Dados do percurso

Informação sobre os aspetos mais significativos:

Data2006-04-22
Tempo de deslocação03h 11m
Tempo parado01h 56m
Deslocação média 3,7 Km/h
Média Geral2,3 Km/h
Distância total linear11.8 km
Nº de participantes22