2003-02-15 De Portela do Alvito a Porta Cuco

Esta actividade teve a participação de 43 companheiros.

Iniciamos em Portela do Alvito e tomamos rumo do estradão florestal que sobe até Stº António de Vale de Poldras. Ao Km 5.5 atravessamos o rio Vez, subindo na direcção da Branda de Porta Cuco.

Aí fizemos a pausa para almoço, no topa da branda, apreciando a batida ao Javali que ruidosamente se derrenrolava no vale abaixo.

Desta vez foram o Pimenta e o Vilaça os padrinhos da cerimónia do baptizado dos caloiros. Foram então solenemente baptizados mais 9 novos companheiros, que se iniciaram nesta actividade. Foram eles: Alberto e a Sara Leite, António e Isabel Alves, Luis Soares, Carla Freitas, Ivone Rio e Fernando e Sandra Ribeiro.

O regresso foi feito pela branda de Crastibô e Porta Cova. Na descida cruzamo-nos com um curioso casal, ele a conduzir o carro de bois pela ingreme descida, ela a carregar-lhe a arma de caça.

Chegados a Porta Cova decidimos o regresso pela ponte lá bem no fundo do vale, onde tiramos a foto de grupo. Depois, já tarde alta, subimos o trilho que nos conduziu até Paço, regressando depois a Portela do Alvito.

José Almeida

Amigos da Chão


“São terras altas do Vez, em que por vezes os socalcos dos campos nas encostas da serra nos faz lembrar o vinhedo do Douro, são as Brandas encaixadas em locais de repouso e brando sossego, são as vistas a reter na nossa memória, e à tardinha no regresso, o por do sol através das encostas da Serra”

Este foi o tema para o nosso percurso, que teve a participação de 43 caminheiros vindos de vários locais.

Manhã bem cedo rumamos a terras de Arcos de Valdevez, passando por Aboim das Choças, e mais á frente cruzamos o Rio Vez pela ponte romana de Vilela, magnifico legado. Um pouco mais á frente Cabreiro freguesia em que determinado local diz a lenda os pais quando já velhos eram lançados no “Poço da Gola”, e logo depois Sistelo antiga freguesia de S. João Baptista de Sistelo vigairaria anexa á abadia do Salvador de Cabreiro. As inquirições de 1258 ao referirem-se á freguesia de Cabreiro, dizem que Sistelo “era uma recente e pequena póvoa e que os seus habitantes estavam sujeitos à anúduva, bem como á cobertura e guarda da fronteira do "Porto do Cousso”. Finalmente e após cruzarmos novamente o Rio Vez chegamos ao local de inicio deste percurso Portela do Alvite, pequeno lugar de Merufe e separa terras dos Arcos e Monção, conhecida pela sua “Feira de Burros” que se realiza anualmente no dia 12 de Setembro.

Após os preparativos da praxe, colocadas as mochilas ás costas e protegidos do intenso frio da serra, embrenhamo-nos através de um estradão florestal que conduz lá para os lados de S. António de Vale de Poldros. Para o outro lado do vale a vista é soberba, bem lá no fundo avista-se Sistelo com o seu castelo mandado edificar pelo 1º Visconde de Sistelo, e na encosta contrária no meio do ondulado dos socalcos da encosta os pequenos lugares de Padrão e Porta Cova, destacando-se em posição intermédia no perfil da serra , constituindo um exemplo paradigmático da forma inteligente como as populações serranas organizam e gerem o território. O centro de toda a actividade é a aldeia ou lugar, coroando a zona de socalcos que desce até ao Rio Vez. Para cima da aldeia fica a serra, onde pastoream os rebanhos de cabras e ovelhas e o gado bovino. Todo o território é alvo de aproveitamento sendo a altitude o principal elemento diferenciador de espaços, na sua intima relação com as variáveis climáticas. A configuração do povoamento e do uso de território remete-nos para os séculos XVIII e XIX, quando o milho chegou finalmente ás terras mais altas.

Mais produtivo que o trigo e o centeio, que quase lançou para o rol das recordações, o milho trouxe consigo um crescimento de gente e de trabalho. A terra tornou-se pouca para este cereal, exigente em cuidados mas compensador. Assim, teve que subir mais frequentemente á serra, para conquistar mais uns palmos de terra e alimentar os gados na Primavera e no Verão. Em meados do século XX, atingiu-se o máximo aproveitamento do território, interrompido pela emigração maciça da década de 60 e seguintes. Ficou-nos uma obra grandiosa, ainda muito preservada pelas gentes que aqui vivem.

Continuamos subindo, agora envoltos por um denso bosque de pinheiros silvestres e cedros, e logo o azar bate á porta de um colega que mesmo adoentado tenta fazer o percurso, mas em breve e após decisão acertada compreende que este dia não é para si. Faz-se o reagrupamento e logo depois deixamos o estradão florestal para novamente se cruzar o Rio Vez, onde a passagem é sempre alvo das habituais brincadeiras. Entramos agora numa grande mancha arbórea, ziguezagueando, e á nossa esquerda na encosta contrária do rio vemos a antiga Branda de Arieiro com as suas cardenhas. As brandas constituem formas de ocupação humana adaptadas às necessárias movimentações dos rebanhos em busca de melhores àreas de pastoreio. A sua utilização é sobretudo estival, quando na próximidade da aldeia os campos estão cultivados. Existem Brandas de gado (que não teem campos de cultivo) com pitorescos abrigos de planta circular, hoje muito pouco utilizados. Alguns só com um piso, serviam apenas para abrigar animais. Noutros há um piso superior onde o pastor acendia uma fogueira nos dias mais frios e se abrigava do mau tempo. As paredes destes abrigos são constituidas por simples sobreposição de pedras de tal forma dispostas que formam uma falsa cúpula, usando apenas o granito, abundante no local, e que preservam toda a sua genuidade.

O grupo estende-se agora através do bosque, e espanto nosso, encontramos dois caminheiros e uma caminheira, holandeses, um pouco perdidos, fazendo o reconhecimento de uma futura marcha que ligará Castro Laboreiro/Moledo do Minho, confraterniza-se cruzam-se informações e resolvem seguir-nos para chegar á Branda da Aveleira. Continuamos sempre sobre o bosque, passando por uma antiga habitação situada junto a um bonito lameiro murado, local onde é ocasião para um pequeno descanso e reabastecimento. Os Lameiros ou Prados de lima, são prados semi-naturais para o pastoreio do gado bovino e produção de feno. Situam-se em parcelas de terreno mais inclinadas, algumas vezes com declives muito acentuados. Uma continua pelicula de água corrente, alimentada por bocas distanciadas entre si de cerca de meio metro, funciona como protecção eficaz contra as geadas invernais e primaveris.

A qualidade destes pastos, de vegetação espontânea, è garantia do sabor inigualável da posta de Barrosão.

Continuamos em fila indiana pois o estreito trilho só assim o permite, e lá mais para cima começamos a avistar a branda da Aveleira, é altura de nos despedirmos dos holandeses, com um até breve. A partir daqui é a céu aberto sem carreiro, subindo ao longo de uma encosta de granito, para depois apanhar nova calçada. Já começa a ser horas de reabastecimento mas ainda falta mais um pouco, anima-se o grupo, ao longe já se avista o nosso destino, e após cruzarmos antigos campos de cultivo a meia encosta, chegamos à Branda de Porta Cuco.

São tiros sim senhor, são dezenas de cães a ladrar, são cornetas a tocar, espanto nosso, ao longo do profundo vale que se estende á nossa frente percebemos que se está realizando uma Montaria ao Javali, com os caçadores colocados nas ”Portas”, locais estratégicos para esperar o animal. È com este cenário que no cimo de um morro, tentando abrigarmo-nos do vento frio e com o “Pedrinho” marco geodésico que assinala o alto da Serra da Peneda, que fazemos o reabastecimento, onde como sempre não faltam saborosas iguarias desencantadas do interior das mochilas, cruzando-se os sabores e com o Simões a mostrar os dotes de enólogo. Chega a hora dos “Baptizados”, o Pimenta e o Vilaça são os padrinhos da sempre solene cerimónia do “Arreum porum, bota abaixarum, Amèm” dos novos caminheiros, Alberto e Sara Leite, António e Isabel Alves, Luís Soares, Carla Freitas, Ivone Rio, Fernando e Sandra Ribeiro.

Começamos a iniciar o regresso, mas eis que toca o “telélé”, é o Joca que vem ao nosso encontro mas trocou um pouco as voltas e se encontra no outro lado do profundo vale junto á Branda do Alhal. Após troca de informação despedimo-nos com um até já. Vamos descendo a vista é deslumbrante, ao longe e na encosta contrária divisámos as Brandas de Porta Covêlo, da Gémeas e do Alhal, já por nós visitadas noutra altura, a descida é acentuada e sem trilho e em breve a nossos pés surge a Branda de Crastibô, envolta em antigos campos de cultivo e magestoso carvalhal. Os campos, outrora cultivados de batata e centeio na secular luta contra a fome, estão hoje quase exclusivamente votados á produção de pasto e feno. Neste local é feito novo reabastecimento, e onde a nossa espera já se encontra o Joca, que conta a sua aventura para chegar até nós. Pela branda vemos alguns cães “escanzelados” que mandaram os caçadores atrás dos javalis.

Feito o descanso, continuamos a descida agora através da antiga calçada de acesso á Branda, no caminho encontramos um curioso casal conduzindo um carro de bois carregado com mato descendo a íngreme calçada, chiando sobre o eixo talvez de oliveira, e com a mulher carregando ao ombro a arma de caça. Trocam-se palavras e acompanhamo-los até ao pequeno povoado de Porta Cova onde no seu interior se conversa com os naturais. A vontade de ficar mais um pouco é grande mas o sol já vai descendo ao longo das encostas da serra, descemos ao fundo do vale para atravessar o rio Vez sobre uma antiga e bonita ponte romana, onde é feita a foto do grupo. Já é tarde avançada, vamos agora subindo o trilho através de uma calçada que nos conduz até Paçô do Monte, e onde mais uma vez se aguça a curiosidade conversando com os populares. Olhamos mais uma vez para trás e a vista é impressionante perdendo-se nos socalcos das encostas com os lugares da Porta Cova e Padrão lá colocados como um presépio vivo, onde até ao alto se estende toda a encosta da serra da Peneda.

Em breve atingimos a Portela do Alvite, já com a neblina do inicio da noite a chegar, e sendo horas de dizer até breve...

Miguel Moreira

Amigos da Chão

Dados do percurso

Informação sobre os aspetos mais significativos:

Data2003-02-15
Tempo de deslocação06h 35m
Tempo parado01h 26m
Deslocação média 2,9 Km/h
Média Geral2,3 Km/h
Distância total linear18,8 km
Nº de participantes43