2003-01-11 Serra da Nó e as suas lendas

Este percurso teve início junto à casa florestal de Vitorino de Piães e a participação de 37 companheiros.

Partimos em direcção do Alto de Valadas, seguindo até à Capela da Senhora da Conceição, local em que inflectimos para a esquerda, subindo a encosta.

Subimos na direcção do Alto da Serra da Nó, onde se situa a Torre de Vigia.

Daí uma paisagem magnífica em todas as direcções, especialmente para o Vale do Lima.

Depois da pausa do almoço, com o baptizado de mais alguns novos companheiros, voltamos pelo mesmo acesso, mas na primeira cortada à direita e seguimos para a Chão Grande ou Chã Grande, onde após breve paragem seguimos à esquerda, para mais abaixo, visitar as Minas dos Mouros, local onde se vêm vários vestígios de explorações mineiras muito antigas, às quais estão ligadas várias lendas.

Continuamos descendo até encontrar o estradão que contorna o monte.

Este trecho do percurso, tem uma paisagem especialmente interessante para os lugares de Ponte de Lima a nossos pés, que vão desde a Facha até Vitorino de Peães.

Logo a seguir surge à nossa direita um trilho a descer.

Junto a esse cruzamento fica um morro, apelidado de Castro Trás-Cidades, onde se notam vários vestígios de ocupação remota, apontando-se como um importante aglomerado populacional.

Aí tivemos a oportunidade de ouvir, pelo Dr. Luís Gonçalves, a bela lenda do Monte da Nó e das suas riquezas perdidas e do amor de Zuleima e Abakir.

Logo depois foi a forte descida na direcção de Vitorino de Piães, por trilho bastante fechado e muito encharcado em alguns locais, que nos conduz directamente ao ponto de partida.

José Almeida

Amigos da Chão


SERRA DA NÓ E A SUA LENDA

Na busca do castelo do mouro Abakir que se apaixonou pela pastora Zuleima, subimos ao monte da Nó ou Nora, a 580 metros de altitude, onde os nossos olhos se pregaram, embevecidos, nos quadros paisagísticos das aldeias envolventes. Em seu redor circundam as freguesias de Fojo Lobal, Rebordões, Facha, Vitorino dos Piães a Cabaços. Lá mais ao longe, Bertiandos, Estorãos e a Sra. do Minho. Virados para nascente, avista-se a Armada e a Boalhosa, com o vale do Trovela a seus pés e o Monte do Oural, no cimo, a encobrir Godinhaços, onde o rio Neiva brota as primeiras águas. No horizonte, a Serra Amarela estava coberta de neve, tal como a Pedrada (Peneda), o ponto mais alto do Alto Minho.

Era o dia 11 de Janeiro do ano 2003, quando pelas oito horas a trinta, seguimos até à Seara, a em Vitorino dos Piães, fomos subindo o estradão florestal até à capela de W Sra. da Conceição. Paramos para descansar a retomar forças para a subida até ao, marco geodésico, encimado num penedo altivo, mas de fácil acesso.

Por ali estavam duas mesas de pedra, bem torneadas a para onde foram lançados os farnéis típicos de montanha destes caminheiros que continuam a perpetuar a vertente gastronómica das tradicionais romarias alto minhotas... Comemos e saboreamos as pataniscas da Lurdes Vieira, o pernil fumado do Ernesto, o anis abagaçado do Carlos Manuel a as charniqueiras da Fina. Até houve quem trouxesse Esporão 1982 para acompanhar!... E esta, hein?

No alto, junto ao posto de observação dos fogos florestais, vulgo posto de vigia, foram "baptizados" alguns caminheiros, segundo o novo ritual dos Amigos da Chão, sob as palavras de um latim macarrónico: "Arreum porum, bota abaixarum, Amén". Foram eles: o Armando Branco (hip-urra!), António Pires, Maria do Carmo Santos, Pedro Monteiro, Maria do Carmo Sousa a Francisco Sousa.

A partir daqui era o retorno. Vimos as minas de ouro abandonadas, ao que se julga dos tempos romanos, estando a descoberto as crateras; toda a zona envolvente faz-nos remontar aos primórdios da nacionalidade, monte ocupado por romanos a depois pelo povo invasor da península, os mouros; daí, que a lenda da Serra da Nó tenha algo a ver com esta realidade e o dito castelo tenha sido mesmo ocupado pelos mouros.

E fomos até ao sítio onde, efectivamente, restam vestígios de uma fortificação em granito, que se julga ter sido o castelo da Serra da Nó a uma vez no local, o Miguel dá-nos um papel com a sua lenda, a toca de ler, à boa maneira do Prof. Hermano: meus amigos, foi aqui... que o jovem rei mouro, Abakir, ambicioso a apaixonado, que dominava um vasto território a por onde corria o rio Lima. Um dia, Abakir foi caçar, rodeado de guardas, falcoeiros a cães de caça a eis que se lhe depara, guardando um pequeno rebanho de ovelhas, uma jovem pastora, chamada Zuleima, cuja beleza logo entrou no coração do rei Abak Este aproximou-se da pastora a pediu-lhe que fosse até ao seu castelo, edifício na Serra da Nó; porém, pastora não acedeu ao convite, o que irritou Abakir mandando prendê-la no seu castelo até que ela pedisse perdão.

A recusa da jovem pastora, à medida que o tempo passava, fazia aumentar paixão e o desespero Abakir que, não aguentando o amor que lhe abrasava peito, mandou chamar Zuleima à sua presença a disse-lhe:

- Pede-me tudo o que quiseres a tudo to darei, se consentires ser minha esposa.

Respondeu-lhe a pastora, com muita firmeza, mas também quebrada pelo amor ao jovem rei que dela apoderara:

- Aceito ser tua esposa, mas na condição de ser a tua única rainha a me seres sempre fiel.

O rei Abakir, de imediato, aceitou as condições impostas pela sua bem-amada Zuleima, e o castelo entrou em festa para comemorar tão esplendoroso acontecimento.

Entre diversões a caçadas o casal jovem passou anos de verdadeira felicidade, até ao momento em que um exército cristão vindo do norte se aproximou dos domínios de Abakir, para o aprisionar a tomar-lhe o castelo; porém, nem Abakir, nem castelo a nem a sua única rainha!

Diz-se que, em noites enluaradas, um vulto de mulher, envolto, ora em vestes rogaçantes e faustosas, ora na simplicidade do trajo campestre, vagueia pela Serra da Nó. Quem será? Talvez a pastora, depois rainha, saudosa do seu rebanho, do seu castelo a do seu amado Abakir.

Regressados à base inicial, onde foram deixados os carros, havia que petiscar algo em local condizente, tasca ou taberna, de preferência. Alguém se lembrou de ir à taberna do Afonso, em Poiares, junto à Capela de S. Roque; lá fomos, não todos os caminheiros, mas o núcleo dos "amigos da chão". Ficamos a saber que ali se come bom bacalhau assado na brasa, preparado de forma especial. Na hora da abalada, todos se despediram com um aguado até breve. Ainda há relíquias destas, felizmente!

in:Aurora do Lima 05/02/2003

Luís Gonçalves

Amigos da Chão


Lenda da Serra da Nó

Era uma vez um jovem rei moiro, Abakir, ambicioso e apaixonado, que dominava um vasto território de montes densos de pinheiros e castanheiros, de vales arados e amenos, por onde escorria um rio claro e lento, chamado Lima.

Um dia, entregue aos prazeres da caça, que por ali havia abundante, rodeado por guardas, falcoeiros e cães de raça, eis que se lhe depara, guardando um pequeno rebanho de ovelhas, uma rapariga formosíssima, com umas negras tranças coroadas de papoilas vermelhas.

A beleza desta imagem logo entrou no coração do rei, sempre pronto a ceder aos encantos femininos. Aproximando-se da pastora, logo lhe rogou, com palavras ardentes, que o seguisse para o seu soberbo castelo, edificado na Serra da Nó, onde passava o mais aprazível do seu tempo e onde a receberia por esposa entre muitas outras que a sua religião lhe permitia desposar.

Mas a pastora, cujo nome era Zuleima, negou-se a acompanha-lo, dizendo que não trocaria a sua vida, embora humilde, pelas maiores riquezas do mundo.

Indignado com tal recusa, Abakir ordenou aos guardas que prendessem a rebelde e a levassem, à força, para o seu castelo altaneiro. Só a soltaria quando ela lhe pedisse perdão e acedesse aos seus desejos, ao seu amor nascente.

Mas o tempo foi passando, sem que a pastora se arrependesse da sua recusa. E, com ele, aumentava a paixão e o desespero de Abakir.

Então, não conseguindo mais acalmar aquele amor que lhe abrasava o peito, mandou chamar Zuleima à sua presença e disse-lhe:

- Pede-me tudo o que quiseres, os maiores caprichos, os maiores tesouros, que tudo te darei, se consentires ser minha esposa.

Respondeu-lhe, então, a pastora, com firmeza não destituída de doçura, pois também ela acabara por se enamorar do jovem Abakir.

- Concordarei em viver junto de ti, com a condição de ser tua única rainha e me seres sempre fiel.

Arrebatado, o rei imediatamente aceitou as condições impostas pela bem-amada Zuleima. Então, o castelo da Serra da Nó abriu-se, em esplendor, às bodas reais, com festas nunca vistas nem sonhadas.

E alguns anos se passaram para a felicidade do casal, gozada no conforto do castelo, na alegria das diversões e caçadas, na contemplação daquela paisagem de maravilha. Entretanto, um numeroso exército cristão, forte e ousado, vindo do Norte, ia derrotando os guerreiros da Moirama e aproximando-se, perigosamente, dos domínios de Abakir. Era urgente a fuga, o abandono da paz deliciosa da Serra da Nó e do seu castelo! Mas Abakir resistia a tal imperativo e, com ele, Zuleima, os dois enfeitiçados pela brandura daquelas paragens paradisíacas.

Uma noite tormentosa, ao escutar, cada vez mais perto, o ruído feroz das espadas e das lanças entrechocando-se; o alarido da vitória solto das bocas dos combatentes cristãos e o gemido dos guerreiros moiros feridos de morte, o rei foi buscar, de entre os seus tesouros, um velho e pesado volume, revestido de coiro lavrado a oiro, o Alcorão, o livro sagrado da sua religião, escrito por Maomé que, segundo o profeta, lhe fora ditado pelo anjo Gabriel.

E, na presença assustada da rainha, pôs-se a folheá-lo, lendo, em voz baixa, certas suas passagens misteriosas, enquanto estendia a mão sobre Zuleiina, sobre quanto o cercava, sobre si próprio.

E, quando, na manhã seguinte, os soldados cristãos galgaram, vitoriosos, os cimos da Serra da Nó, na ânsia de aprisionar Abakir e tomar-lhe o castelo, nada se lhes deparou, mais do que o silêncio verde da folhagem, alguma pedra musgosa no abandono da poeira. Somente, do galho de uma árvore, o trinado de um pássaro parecia troçar da funda desilusão da soldadesca: nem castelo, nem Abakir, nem a sua única rainha! Mas diz-se que, em noites enluaradas, quando o arvoredo é de vagas sombras e o rio é de prata, vagueia pela Serra da Nó um vulto de mulher, envolto, ora em vestes roçagantes e faustosas, ora na simplicidade do trajo campestre, evocando, quem o sabe?, a pastora depois rainha, decerto saudosa do seu rebanho, saudosa do seu castelo e do seu amado Abakir.

in: cm-pontedelima.pt

Dados do percurso

Informação sobre os aspetos mais significativos:

Data2003-01-11
Tempo de deslocação04h 24m
Tempo parado01h 24m
Deslocação média 2,9 Km/h
Média Geral2,2 Km/h
Distância total linear12,5 km
Nº de participantes27