2023-03-18 PR29 Trilho de S. Silvestre

Para este sábado de Março estava prevista a ida à serra da Peneda, até ao icónico “Alto da Pedrada”, um marco no historial do nosso grupo, mas as condições do tempo não se mostraram favoráveis, obrigando a uma alternativa menos exigente.

Escolhemos um percurso aqui perto, recentemente inaugurado pela Câmara Municipal de Viana do Castelo, designado de PR29 - Trilho de S Silvestre, que decorre maioritariamente nas antigas freguesias de Cardielos e Serreleis, agora reunidas numa união de freguesias do concelho de Viana do Castelo.

Arrancamos da igreja matriz de Cardielos, com orago a São Tiago, também apelidado de Santiago Filho do Trovão, que é padroeiro dos cavaleiros, peregrinos, farmacêuticos, veterinários e dos químicos.

A igreja está enquadrada num espaço que foi recentemente remodelado, transformado num largo airoso e bem cuidado, mas que é completamente desfeado pela poda ornamental das seculares oliveiras, que lhes retirou toda a sua beleza natural. Que triste ideia tiveram os responsáveis por esta intervenção de gosto mais que duvidoso.

O tempo estava muito ameaçador, com nuvens baixas de chuva, o que não preconizava nada de bom, mas foi pelas 09:00 que iniciamos a subida do monte de S. Silvestre por uma velha calçada que cruza a A28 e continuava, cada vez mais ingreme. na direção do cume do monte.

A velha calçada é, por si só, uma obra impressionante de trabalho manual, pois continua muito bem conservada, com os enormes blocos de granito perfeitamente justapostos, que embora muito escorregadios, nos possibilitaram vencer o acentuado desnível, com a chuva que entretanto compareceu, a dificultar a progressão.

Chegados ao recinto da capela de S. Silvestre, fizemos uma breve paragem para retemperar forças e tirar a foto de grupo, antes de apreciar as belas paisagens para o estuário do rio Lima, com o mar lá ao fundo. Aqui sobressaem as imponentes árvores centenárias, a ampla esplanada, a capela do Santo titular e as recuperadas casas da confraria. Foi numa dessas casas da confraria que passamos bons momentos, quando foi festivamente celebrado o 15º Aniversário do nosso grupo.

Há quem venha a S. Silvestre oferecer cravos e alhos, agradecendo o cumprimento dos milagres pedidos por intercessão do Santo. É também tradição antiga os agricultores subirem o monte para recomendar os animais a São Silvestre, levando-os a dar voltas ao redor da capela e depois a receber a bênção.

Muitas são as lendas que chegaram aos nossos dias sobre este local, mas uma delas lembra o dia que que o santo se colocou na outra margem do rio Lima, no alto do Castro de Roques, e atirou a sua vara, desejando que onde caísse, fosse edificada uma capela em sua honra. Pelos vistos o santo estava cheio de força, pois a vara atravessou todo o vale e cravou-se no alto de um picoto, onde foi construído este santuário em sua honra.

Findo o descanso subimos mais um pouco até ao marco geodésico que assinala os 282m de altitude, junto de um velho castro da idade do ferro, com vestígios de ruínas de diversas habitações e restos de muralhas, só parcialmente visíveis no meio da densa vegetação.

Descemos depois a escadaria de acesso ao monumento erigido em honra do papa santo S. Silvestre I, sucessor de S. Pedro e descemos o monte pelo lado nascente até ao local onde se situam as Gravuras Rupestres da Breia, afloramento granítico com gravuras esculpidas na rocha, nomeadamente formas circulares e outras mais obscuras que os entendidos caracterizam como “figuras semi-naturalistas, com representação dos membros em movimento e cauda erguida, pelo que parece ser um equídeo”.

O tempo entretanto melhorou e pararam os aguaceiros ligeiros que nos acompanharam na descida, passando o sol a dar-nos a sua companhia no restante percurso.

Cruzamos para sul a freguesia de Cardielos passando pela nunca finalizada linha de comboio do Vale do Lima e continuamos junto do limite da freguesia com a vizinha de S. Salvador da Torre (agora designada de Torre), passamos junto da enorme Quinta de Santo Isidoro, originalmente denominada de Casa de S. Salvador da Torre. Esta quinta vitícola encontra a sua génese num solar construído do séc. XVII, restaurado e ampliado no séc. XIX, tem no seu interior uma capela em evocação de Santo Isidoro.

Já em terrenos de S. Salvador da Torre, passamos defronte do portão da quinta e seguimos a imponente avenida das tílias que desemboca no rio Lima. Seguimos entretanto agora na direção da foz do Lima, reentramos na freguesia de Cardielos imersos em densa vegetação arrelvada, que mais lembrava um tapete verde-claro florido de branco, que tudo cobria. Um belo trecho de paisagem que muito nos agradou.

Cruzamos entretanto o pontão do ribeiro de Nogueira, junto da sua confluência com o Lima e seguimos sempre pela sua margem até ao Parque de Merendas de Cardielos, situado junto a um bar, na altura encerrado, onde aproveitamos as mesas de pedra para fazer a já merecida refeição.

Continuamos pela margem do rio Lima e chegamos ao embarcadouro do Barco do Porto, junto da divisão administrativa com a antiga freguesia de Serreleis, local onde operaram durante séculos os barqueiros residentes, que asseguravam a segura travessia de pessoas animais e carga. O lugar de Barco do Porto de Cardielos constituía um embarcadouro de grande importância no transporte de pessoas entre ambas as margens do rio. Até ao século XIX, uma barcaça era utilizada para a travessia de carros de tração animal, mesmo carregados, e até automóveis. Neste embarcadouro, para além das barcas de travessia também havia local de atracagem das “embarcações de água-arriba” que asseguravam as ligações fluviais ao longo do rio Lima.

Cruzamos depois a freguesia de Serreleis por estreitos caminhos rurais, sendo a ingreme “Travessa do Cão Ferreira” muito, mas mesmo muito escorregadia, o que proporcionou momentos de patinagem artística aos mais incautos.

Seguiu-se a paragem e visita à igreja paroquial de Serreleis, de estilo barroco, que tem como patrono S. Pedro. Fizemos aquí uma curta paragem técnica, renovando as críticas ao modo como “estragaram” as velhas oliveiras circundantes, que mereciam melhor sorte do que ser aparadas desta forma ridícula, que lhes retira toda a dignidade.

Cruzamos depois Serreleis, passamos junto da capela de S. Brás e subimos até ao Calvário de Serreleis, agora engalanado com as faixas roxas da Quaresma. A ingreme escadaria de acesso desgastou mais um bocado as forças, mas o companheiro Pimenta está numa forma tal, que as subiu a correr, desafiando os mais ajuizados a fazer-lhe companhia. Nem pensar! Alguns até nem subiram, ficando na base da escadaria, à espera do regresso do grupo principal.

Regressados ao desvio para o Calvário, cruzamos o lugar de Novais, contornamos os caminhos de acesso ao monte de S. Silvestre e reentramos na freguesia de Cardielos, para finalizar este percurso de novo na igreja de S. Tiago, que aproveitamos para visitar.

O PR29 surpreendeu-nos pela positiva, já que é muito variado, passando das belas paisagens da Ribeira Lima desfrutadas do cimo de S. Silvestre, até ao casario e caminhos rurais que atravessamos, e às inolvidáveis margens do rio do esquecimento - o rio Lima, com suas praias fluviais e memórias dos embarcadouros de outros tempos.

O dia foi rematado num lanche muito reforçado em Serreleis, no “Chameau”

José Almeida
Vianatrilhos

Dados do percurso

Informação sobre os aspetos mais significativos:

Data2023-03-18
Hora de início09:00
Hora do fim15:20
Tempo total do percurso6h 20m
Velocidade média deslocação2,8 km/h
Distância total linear13,1 km
Distância total13,3 km
Nº de participantes23