2022-09-09 Travessia do Gerês

Portela do Homem - Pitões das Júnias

Sexta 9 de Setembro. Ponto de encontro na Portela do Homem, junto à fronteira.

O trabalho de casa já estava feito, e bem feito, quer quanto à logística - para 4 de nós a dormida foi em Torneiros, nos Baños, pertinho da fronteira -  quer quanto ao pedido de autorização para fazer este percurso uma vez que uma parte atravessa território que é reserva integral, entre a Cascata de S Miguel e a Chã das Abrótegas, já perto das Minas dos Carris.

Descendo um pouco a estrada desde a fronteira às 7:45 o bando dos seis foi auto retratado junto à ponte de S. MIguel e iniciou-se a subida para os Carris por caminho quase sempre acompanhado pelo rio Homem. Outrora estradão de acesso às minas (exploração de volfrâmio desde os anos 40 até à década de 70 do séc. passado) é agora, em grande parte, um estreito trilho onde a vegetação reclama direitos. O tempo rapidamente passou de fresco matinal a generoso sol e lá fomos subindo verificando com agrado que há água correndo nos pequenos ribeiros afluentes do Homem, que há falcões a olhar-nos do alto e até grifos. O olhar atento do mais jovem do nosso grupo já tinha detectado "sinais" frescos de cabras e de facto um bando (um fato) de cabras selvagens - cabra montês, Capra pyrenaica - presenteou-nos com a sua presença permitindo-nos mesmo uma demorada apreciação das suas poses e atitudes. Não deixamos também de reparar em alguns conjuntos de pinheiro-de-casquinha (Pinus sylvestris L.) espécie que e encontra em vários locais mas que apenas aqui, no Gerês, é considerada como espontânea.

E lá chegamos aos Carris, cenário um tanto ou quanto fantasmagórico de ruínas ali residentes naquele cenário selvagem e magnífico. Uma pausa e a sensação de que a caminhada vai agora começar.

Saímos pelo Salto do Lobo, com alguns malabarismos por cima de ruínas do que terá sido a lavaria das minas, acompanhamos o corgo da Lamalonga que transportou os resíduos da lavagem do minério até os depositar numa chã - Lamalonga.

Prosseguiu-se a norte do pico da Matança que já assim se chamava mesmo antes de termos encontrado os restos mortais de uma cabra selvagem que nos deixou de recordação os seus magníficos ornamentos. Descida à ribeira das Negras que percorre o enfiamento da "lagoa dos Carris” até nós e fomos encurtando a distância para o pico do Compadre. Apesar de alguns mariolas o trilho não é um caminho bem definido obrigando o nosso guia a perder bastante da paisagem envolvente para nos manter no bom caminho, para a próxima será de toda a justiça encarregar-se um outro da função.

Paragem para almoço e fomos rodando a norte deixando para trás o pico do Compadre e atacando os Cornos de Candelas, varanda sobre o “outro lado”, para lá do vale do Beredo, barragem da Paradela, planalto da Mourela. Logo a seguir o primeiro vislumbre sobre Pitões das Júnias, tão perto e tão longe !
Também agora o trilho é tudo menos óbvio e fácil e foi com algum custo acrescido que descemos à corga da Ribeira de Teixeira para depois ir subindo até à base imponente e altiva que serve de alicerce à capela de S. João, lá no alto, alva e pura à cota de 1100 m . O ataque fez-se a sul da capela e a cerca de 200 metros desta ignorámo-la, viramos-lhe as costas. A ida e volta seria um desvio de quase 500 metros e nesta altura já não era tão entusiasmante como abraçar finalmente uma descida e em caminho razoável.

Afundamo-nos no carvalhal do Teixo, paraíso de sombra e água viva a correr sobre as pedras. A travessia dos bosques retemperou-nos para a “recta final” que não sendo recta se desenha em ascensão contínua de cerca de 2,5 Km, para justificar as bebidas na meta. Apesar do esforço ainda houve quem corresse com medo que a cerveja esgotasse mas não só não esgotou como estava pré-paga ! Talvez por um dos companheiros com remorsos de não ter levado café.

Jantarinho reconfortante no D.Pedro onde se acalmou a sede que tinha sobrado e depois a simpática esposa do Sr. Fernando, taxista de Tourém, levou-nos no seu Mercedes de 9 lugares do D.Pedro à Portela do Homem onde nos esperava um duo de agentes do ICNF para nos ralhar dado que, como toda a gente sabe pela comunicação social, não se pode deixar os carros ali depois do pôr-do-sol! Para a próxima teremos de ler os jornais antes da actividade. Mas, e note-se bem, as autoridades com que se lidou nesta actividade foram impecáveis. Desde o ICNF à Protecção Civil de Montalegre, contactaram o grupo, pediram para contactar e sempre que se indicou a nossa posição actualizada logo respondiam a desejar boa caminhada e, no fim, bom descanso.

O descanso foi bom, a caminhada tinha sido dura mas interessante e bela e ainda por cima com bons companheiros. Já deixa saudades.

Jorge Mota
Vianatrilhos

Dados do percurso

Informação sobre os aspetos mais significativos:

Data2022-09-09
Hora de início07:30
Hora do fim19:13
Tempo total do percurso9h 50m
Velocidade média deslocação2,7 km/h
Distância total linear25,9 km
Distância total26,2 km
Nº de participantes6