2020-02-15 Margens do rio Ferreira

O ponto de encontro foi junto do Pavilhão Multiusos de Gondomar, onde nos esperavam os companheiros da zona do Porto, tendo seguido depois para o lugar de Beloi, freguesia de S. Pedro da Cova, concelho de Gondomar, onde a rua do Pedrogo cruza o rio Ferreira, mesmo junto ao restaurante Mateus da Ponte.

O rio Ferreira brota em múltiplas nascentes da antiga Chã de Ferreira, cuja nascente principal é em Freamunde no lugar da Joia e é afluente do rio Sousa.

Feita a preparação do equipamento, iniciamos a marcha cruzando o rio Ferreira para a sua margem esquerda e subimos para a Capela de Nª Sra. das Mercês, que está datada de 1834 e foi construída pelos habitantes do lugar de Beloi em especial pelos "Lavradores", como agradecimento a Nossa Senhora pelas mercês concedidas.

Cruzamos Beloi pela Rua da Pedra e embrenhamo-nos em terrenos recentemente reflorestados, onde as teias de aranha cobertas de orvalho matinal impressionavam pela quantidade e beleza.

A progressão ao longo dos socalcos inicialmente calma complicou-se bruscamente, obrigando os participantes a redobrar o cuidado, já que o trilho começou a estreitar cada vez mais, subindo abruptamente até ao topo da escarpa das Fragas do Diabo, para logo a seguir descer vertiginosamente ao nível do rio. Se a subida foi puxada a descida foi mesmo muito perigosa, pois a pedra solta e ainda humedecida pelas chuvadas recentes obrigava a muita concentração, já que uma queda poderia ser desastrosa.

Passada esta primeira dificuldade, seguimos calmamente ladeando a margem até defronte da Azenha do Vicente, belo exemplar dos muitos engenhos que aproveitavam as rápidas águas do Ferreira na moagem do cereal.

Depois de uma curta pausa para reagrupamento continuamos a marcha, passando defronte das azenhas da Ucha e das Oliveiras e fomos calmamente até à Ponte de Couce. As árvores predominantes são o sobreiro, o carvalho, o eucalipto e também o amieiro e o salgueiro.

No parque de merendas de Couce, encontramo-nos com a Sara, neta do Miguel e seus pais, que nos surpreenderam com uma visita a estas paragens. Mas não houve tempo para muita prosa pois havia muito que andar e era hora de abalar, subindo o rio ainda pela margem esquerda.

Aqui era grande o movimento de carros e motas em direção aos caminhos da serra, apesar da proibição da câmara de Gondomar.

Passamos defronte de Couce, embrenhamo-nos na vegetação ribeirinha e um pouco depois as coisas começaram a complicar-se de novo, pois o trilho voltou a estreitar, subindo e descendo ao longo do penhasco, interditando erros que seriam fatais numa queda.

Este troço do percurso na zona defronte do Alto do Castelo é muito exigente e perigoso. O trilho estreita e decorre por entre de gigantescos blocos sobrepostos e afloramentos das cristas quartzíticas, que foram exploradas pelos romanos na extração de ouro.

Cabe aqui referir que o complexo mineiro romano da Serra de Pias foi mesmo um dos maiores dessa época, tendo sido usadas várias técnicas de extração, tando em profundidade, como a céu aberto, como usando técnicas mais elaboradas de mineração hidráulica. Há assim buracos profundos, blocos soltos, escarpas escavadas e escombreiras, testemunhas da exploração intensiva que aqui decorreu durante séculos.

O percurso é difícil mas muito belo, pois as vistas para o desfiladeiro encravado entre as serras de Pias (antiga serra do Raio) e a serra de "Cuca Macuca" ou serra de Santa Justa são deslumbrantes, com o Ferreira a correr vigoroso pelas cascatas que vencem e desnível.

Depois de umas fotos e apreciar a paisagem retomamos o percurso e após mais uma curta subida e descida vertiginosa, o percurso tornou-se mais acessível, seguindo a meia encosta até ao local onde até há bem pouco tempo existia uma ponte pedonal, agora destruída pelas águas tumultuosas do Ferreira em tempo de cheias, mas que será brevemente reconstruída.

Como não havia ponte tivemos que seguir em frente até a uma gigantesca pedreira e cruzar o Ferreira pela ponte do caminho-de-ferro, descendo a rua da Azenha até junto ao rio, onde fizemos a pausa de almoço, muito próximo de um interessante conjunto de engenhos em ruínas, na base da escarpa quase vertical do Alto do Castelo.

As águas revoltas do Ferreira e a luz do sol filtrada pelas árvores da clareira proporcionam um ambiente propício ao descanso e contemplação. Pena é a visível poluição das margens e das águas, que degrada irremediavelmente este belo enquadramento.

Findo o repasto aguardava-nos mais uma dificuldade, pois havia que trepar para o topo do Alto do Castelo. A subida é exigente especialmente depois da barriga cheia, mas lá fomos devagarinho até ao cimo, onde pudemos ver mais vestígios de mineração, desta vez de profundidade com os poços dos “fojos” bem visíveis e sem qualquer proteção.

Descemos depois para o vale do rio Simão, afluente do rio Ferreira, vindo de Valongo, que transpusemos para regressar à margem direita do rio Ferreira, logo a seguir à confluência dos dois cursos de água, num lugar onde são visíveis os moinhos do Cuco, que moeram milho e trigo até final de 2005 e do lado direito as dobras nas paredes do desfiladeiro, testemunho do passado geológico das serras de Valongo.

Nesta zona, o rio Ferreira engrossa e ganha velocidade, porque passa numa área muito encaixada de rochas quartzíticas resistentes e mais recentes em termos geológicos, denominadas por Fragas do Castelo, muito usadas para fazer escalada.

Estamos agora no estradão de acesso à aldeia de Couce, pequeno e típico aglomerado de casas antigas, muitas em completa ruína, feitas com blocos de quartzite proveniente da exploração mineira e de xisto, rodeado de campos de cultivo que se apresentam em anfiteatro até ao rio. Crê-se que a sua origem esteja relacionada com a exploração dos recursos minerais. Foi aqui que tiramos a costumeira foto de grupo.

Muitos escuteiros… mas poucos, muito poucos habitantes no amanho das minúsculas parcelas de terrenos. Quase não se via vivalma!

Nas serras de Santa Justa e Pias estão referenciados três castros que integram o Parque Paleozoico de Valongo: Alto do Castro; Castro de Pias e Castro de Couce, povoados primitivos posteriormente ocupados pelos romanos, povo que aqui se terá estabelecido para explorar os minerais existentes no subsolo, nomeadamente o ouro. Dessa presença fica também como herança a lenda das mouras encantadas que se abrigam na serra de Santa Justa e que aqui cozinham nos seus caldeirões sempre que há nevoeiro.

Segundo a lenda, a serra de Santa Justa ou "Cuca Macuca" foi palco de escaramuças entre os Bugios (Cristãos) e os Mourisqueiros (Mouros), que embora em muito maior número foram expulsos destas terras chorando e cantando;

“ Ó serra da Cuca-Macuca
Tanta pena nos deixais.
Atirais com ouro às cabras
E não sabeis com qu’atirais.”

Seguimos depois pelo corredor ecológico que corre ao longo do rio Ferreira e observamos diversas escombreiras (murias ou conheiras) bem percetíveis na margem contrária, evidências de maciças movimentações de terras para a retirada de minério ao longo dos tempos. Pouco depois passamos acima da Azenha do Vicente, local de tertúlias onde, segundo informação do guia Serafim, António Mafra bebeu a inspiração para os versos que o imortalizaram:

“O Dom José de Vicente,
Que é de S. Pedro da Cova.
Pra mostrar que ainda é valente,
Foi dançar a bossa nova.
Escorregou no soalho,
Caiu, foi pró hospital.
Eram pr´aí sete e pico, oito e coisa nove e tal.”

Deixamos para trás o concelho de Valongo e regressamos ao de Gondomar para iniciar uma última subida para o largo da confluência da rua de Couce com a rua do Maninho e rua do Ramalho, onde fizemos uma última paragem de reagrupamento, antes de retomar as viaturas.

A vista que daqui se tem para o zig-zag que o rio faz contornando as altas fragas é deslumbrante. Mais um panorama a reter nesta nossa saída pelas Margens do Rio Ferreira.

O fim de festa foi no Café Familiar, em Gondomar, onde retemperamos as energias com um lanche ajantarado.

Agradecemos finalmente ao Jorge Domingos e ao Serafim pelo empenho que colocaram na preparação e organização deste evento. O nosso muito obrigado.

José Almeida
Vianatrilhos

Dados do percurso

Informação sobre os aspetos mais significativos:

Data2020-02-15
Hora de início09:33
Hora do fim15:26
Tempo total do percurso5h 53m
Velocidade média deslocação2,9 km/h
Distância total linear13,6 km
Distância total13,7 km
Nº de participantes39