Depois da renúncia de Fevereiro, em que o mau tempo não nos permitiu fazer este percurso, desta vez o tempo ajudou e às 09:00 lá estávamos defronte do mosteiro beneditino de Santa Maria de Miranda, também conhecido como Santa Maria de Admiranda, em consequência da paisagem que dele se avista, por estar situado numa encosta.
O mosteiro está quase em completa ruína, salvando-se a igreja, que se mantém aberta ao culto, com o seu altar-mor de talha datado de 1780. O mosteiro é hoje propriedade da família Caldas da Cunha e curiosamente exibe em plena fachada, por cima da porta datada de 1693, a indicação de que os filhos não estão interessados na venda!
Iniciamos a nossa marcha descendo para o lugar da Devesinha com as nossas mascotes caninas Cindy e Kiko a abrir caminho com um ritmo acelerado. Tão acelerado foi o ritmo que logo adiante os companheiros da frente não esperaram por quem sabia o caminho e… passaram o desvio à esquerda!
O remédio foi o regresso forçado ao cruzamento e seguirmos todos juntos pelo trilho que nos levou pelo meio dos campos de lavoura ao lugar de Mangoeiras. A partir daí fomo-nos embrenhando em denso carvalhal, na direção do viveiro florestal do Grandachão.
Passamos primeiro por uma já completamente destruída casa dos extintos
Serviços Florestais e ao nos acercar das instalações também abandonadas do
viveiro, apercebemo-nos de um grupo de homens vestidos com vestes estranhas de
cores garridas.
Fomo-nos aproximando e qual não foi o nosso espanto quando se nos depararam
figurantes a envergar vestes de legionários romanos, preparando-se com os seus
escudos retangulares, armaduras completas, elmos, espadas (gladius), lanças
(pilo), bolsa, botas e demais acessórios de batalha. Depois de metermos conversa
ficamos a saber que o grupo se preparava para ensaiar a formação para um evento
que vai decorrer na cidade de Braga, no fim-de-semana de 28/29 de Maio,
intitulado "Braga Romana", que tem um programa muito variado.
Foi um espetáculo completamente inesperado ver no meio deste carvalhal serrano um grupo de legionários envergando com gaudio suas vestes militares, com um centurião romano a liderar uma formação ordenada em marcha rápida, ao ritmo de tambor de guerra. Nunca visto!
Deixamos para trás os romanos e as alminhas gradeadas do largo frontal do viveiro e seguimos pela sua esquerda por caminho em terra, torneado sempre o marco geodésico do Penedo Grande, que dá o nome a este trilho. Ainda se pensou em ir até lá cima ver o penedo, mas preferimos continuar no percurso originalmente escolhido.
Um pouco mais à frente os Carvalhidos foram forçados a regressar por problemas familiares de última hora. Após um breve compasso de espera continuamos pelo carvalhal maioritariamente de carvalho-alvarinho (Quercus robur) e depois caminhos rurais para o minúsculo lugar do Fojo pertecente à freguesia de Rio Frio, tendo continuando logo de seguida para o vale de Urzal, onde após a travessia da ponte do rio Frio, com uma bela cascata a montante, decidimos deixar o tilho original e penetrar mais profundamente no Vale de Urzal, descendo a densa mata predominantemente de carvalhos, mas também com castanheiros (Castanea sativa), amieiros (Alnus glutinosa), azevinho (Ilex aquifolium), gilbardeira (Ruscus aculeatus) e os fetos (pertencentes ao grupo pteridophyra).
Seguimos então pelo trilho que fazia parte do antigo PR8 – Ciclo do Pão, entretanto abandonado, pelo que a progressão se foi tornando mais lenta, havendo que desbravar à paulada o estreito trilho, já tomado por densa vegetação. Continuamos a custo descida da mata até atingir de novo o rio Frio, mas desta vez não havia ponte, nem sequer poldras de atravessamento.
A travessia fez-se com alguma dificuldade, pois as escorregadias pedras e a força das águas dificultaram muito a passagem, proporcionando um banho forçado à Maria das Dores e ainda mais uns sustos a uns quantos.
Azar dos azares… depois de tanto tempo despendido no atravessamento do rio é que reparamos pela consulta do GPS que afinal o trilho descia o rio, mas pela margem oposta à que estávamos! “Mea culpa” pelo erro, mas nenhum de nós deu com qualquer anterior entroncamento do trilho!
Que fazer? Voltar atrás e viver de novo os sobressaltos da travessia do rio, em que havia o risco de mais alguém cair e até magoar-se com alguma gravidade, ou continuar no trilho dessa margem e descer o rio até a um local onde a travessia pudesse ser mais favorável?
Decidimos pela segunda e continuamos pela margem direita na direção da Ponte de Fuião do lugar de S. Vicente. Infelizmente verificamos que a decisão se veio a revelar errónea, pois pouco depois o trilho começou a afastar-se do rio e a ficar cada vez menos transitável.
Perante este cenário e após breve reunião, decidimos não arriscar mais a descida do vale do Urzal, regressando ao trilho original na proximidade do lugar do Fojo. Foi uma subida bem puxada, mas nestas coisas não se deve facilitar e há que zelar em primeiro lugar pela segurança do grupo.
Recompostos do esforço, tomamos a calçada que nos levou ao lugar de Grijó, junto da pequena capela de Stª Luzia, onde fizemos a já há muito merecida pausa de almoço. Sentados no adro compartilhamos o “comer” por todos, até pelos famintos caninos, que não se fizeram rogados e tomaram de assalto o que apanharam pela frente aos incautos caminheiros.
A vista para Grijó deu para apreciar a bela paisagem rural, com os seus socalcos bem definidos, arduamente conquistados à íngreme encosta da montanha, proporcionando um melhor aproveitamento da água, para a sua lavoura de subsistência.
O sol, a barriga cheia e o café do “Cocas” retemperaram as forças para o resto do percurso, que ainda ia a meio, servindo a pausa também para o batismo da caloira Eduarda Felgueiras, que passou agora a integrar a elite dos “Caminheiros Vianatrilhos”.
Depois da foto de grupo cruzamos o interessante lugar de Grijó e seguimos pelo Monte da Pedreira para o lugar de Represas, por entre bosques de vidoeiros, cedros e carvalhos, aproveitando para apreciar a riqueza florestal envolvente.
Passamos depois a caminhar a meia encosta em linha indiana, por um autêntico túnel de giestas, para o lugar de Almoinha e depois foi descer a bom descer para Miranda, regressando ao local de início.
Para rematar a atividade, o companheiro Carlos Abreu, residente em Cendufe, enriqueceu o programa com uma visita guiada á Associação Sociocultural Padre Himalaya, pelo que descemos a serra até à respetiva sede, onde se nos deparou o desmancho de um porco, matéria-prima para uma sarrabulhada marcada para o Dia do Pai, organizada pela associação. Depois de apreciar a arte do esquartejamento do animal, fomos visitar a sede da associação e ouvir atentamente as detalhadas explicações prestadas pelo Sr. Américo Fernandes sobre a vida e obra do Padre Manuel António Gomes “Himalaya".
Muito poucos de nós conheciam o trabalho deste padre cientista, que no início do século passado marcou com a sua inteligência e trabalho o ambiente cultural e científico português. Agradecemos finalmente a disponibilidade do Sr. Agostinho Soares presidente da Associação Sociocultural Padre Himalaya, que concedeu esta interessante visita com que se rematou em beleza mais uma jornada nestas belas terras do Alto Minho.
José Almeida
Informação sobre os aspetos mais significativos:
Data | 2019-03-16 |
Hora de início | 08:58 |
Hora do fim | 15:45 |
Tempo total do percurso | 6h 47m |
Velocidade média deslocação | 2,4 km/h |
Distância total linear | 15,8 km |
Distância total | 16 km |
Nº de participantes | 30 |