A ideia desta atividade começou já há meses, quando em Outubro de 2018, do decurso da caminhada “de Ponte de Sains à Srª das Neves”, já no regresso dos 7 caminhos passamos no lugar de Vila Verde, da freguesia de Riba de Âncora, com o intuito de visitar os “moinhos D’A Pardal”.
Passamos por mero acaso defronte do Forno Comunitário de Riba de Âncora, onde decorria um almoço com a presença do presidente da Câmara Municipal de Caminha e o Presidente da Junta de Freguesia, que muito gentilmente nos convidaram a entrar, dando-nos a conhecer as instalações e até partilhar uns petiscos e bebidas, que nos deixaram saudades e a promessa de aí voltar noutra ocasião.
A ideia foi amadurecendo e decidimos que era a altura de voltar ao Forno Comunitário para uma almoçarada confecionada por nós, complementada com os contributos de entradas e sobremesas partilhados por todos os participantes.
Como “só de comida não vive um homem”, há que alimentar o corpo mas também a alma, pelo que decidimos enriquecer o programa com uma caminhada, que já fizemos for diversas vezes, subindo as margens do rio Âncora desde a “ponte de Abedim” à “Esturranha” e daí até ao local da refeição, em Vila Verde.
Primeiro havia que preparar o evento, com a nomeação de uma equipa de voluntários, encarregue de desenvolver os contactos de disponibilização de sala, decidir a ementa, providenciar o aprovisionamento dos produtos alimentares, das bebidas e especialmente da confeção dos petiscos.
A preparação dos “comes” começou de véspera, na 6ª Feira à tarde, com a equipa autonomeada, a montar a sala e iniciando também à preparação e confeção dos pratos escolhidos, que mantiveram em completo segredo até ao dia seguinte.
O chefe da equipa de cozinha – José Pimenta, já veterano destas andanças, manteve em grande espectativa todos os curiosos, que se interrogavam sobre qual o pitéu selecionado, mas a surpresa foi a de que não um, mas sim dois terem sido os pratos eleitos. A escolha recaiu em dois pratos “gourmet”, umas “tripas à moda do Porto” e uma “Feijoada à transmontana”!
Mas como isto de trabalhar fora de horas e à noite é duro, a equipa destacada aproveitou os trabalhos preparatórios para mais uma patuscada até às tantas, que serviu de rodagem para o dia seguinte. Trabalhar assim custa!
No Sábado lá estávamos todos no Vitral, para sem demoras ir até Vile, onde nos aguardavam mais alguns companheiros, seguindo logo para a “ponte de Abadim”, onde o Miguel fez breves avisos sobre o cuidado a ter nas escorregadias margens do rio Âncora e a necessidade de o manter um ritmo de marcha mais ou menos constante, de forma a não perder tempo com esperas e cumprir o horário previsto.
Pena foi a de a ”equipa de cozinha” não estar presente, já que as obrigações da confeção colidia com a vontade de participar. Isto de assumir responsabilidades tem os seus lados negativos!
Eram 44 os caminheiros, mais uma mascote canina de nome Cindy e começamos junto da ponte seiscentista de Abadim, construída no reinado Filipino, de tabuleiro em cavalete assente sobre um arco de volta perfeita, atravessando o rio Âncora pela 1ª vez, para seguir pela sua margem esquerda, no meio do casario do lugar da Aspra. Passamos pelo largo da capela de Santa Luzia com seu cruzeiro frontal que remontam ao séc. XVII e voltamos ao rio junto de um interessante núcleo de moinhos chamados de Porto Covo, onde fizemos a 2ª travessia do Âncora pelo pontão de pedra, agora para a margem direita.
A próxima paragem foi no “moinho do Creugo” ainda em bom estado, tendo na proximidade a “Quinta do Creugo”, hoje vocacionada para o turismo. Continuando a subida do rio um pouco adiante surge o “moinho da Fábrica” junto a uma edificação de grande dimensão, aparentemente destinada ao turismo, mas sem sinais de ocupação, talvez pela sazonalidade. O passadiço de pedra existente defronte foi entretanto destruído numa das muitas enxurradas de que as águas do Âncora são pródigas nos tempos invernosos.
A progressão pelas margens dos rios é sempre lenta e traiçoeira, pois são muitos os ramos, raízes e líquenes que retardam a passada, o que aliado às constantes pausas para recolha de mais uma foto comprometia o ritmo, já de si lento. Razão dos repetidos alertas aos mais atrasados, que ficavam cada vez mais para trás, perdendo mesmo contato com a fila indiana que ia subindo o rio.
Um pouco mais à frente surgiu o “moinho do Hilário”, entretanto recuperado e muito bem enquadrado no seu arranjo exterior. Aí fizemos a 3ª passagem do rio Âncora voltando à margem esquerda, cruzando o estreito passadiço de pedra, tendo a montante as águas revoltas de um açude e defronte um interessante conjunto de bungalows, local paradisíaco excelente para relax, e desportos de natureza.
Passamos entre o rio e esses bungalows, em bastante bom estado exceto o último semidestruído por um incêndio. Mais à frente surge o “moinho da Tábua”, onde surgiu a primeira dificuldade do percurso, já que após passar pelos restos das pás do moinho, havia que seguir por uma escorregadia e estreita passagem de pedra e trepar a 4 mãos para a “ponte da Tábua”. A coisa não foi fácil e houve muita escorregadela e alguns sustos, mas tudo acabou sem percalços!
Feita a paragem para reabastecimento continuamos na mesma margem, pelo meio dos campos de cultivo rumo à ponte que dá acesso à capela da Srª da Cabeça, voltando de seguida à margem do rio passamos nas ruinas do “moinho do Fojo 1” e fomos progredindo pelo carreiro dos pescadores, até à ponte metálica que dá continuidade à Rua Portinho dos Bois, cujo nome resulta de ter sido um dos locais onde as juntas de bois eram levadas a beber. Atualmente existe no local uma praia fluvial.
Um pouco mais à frente cruzamos uma propriedade ribeirinha, em que nos vimos obrigados a vencer nova dificuldade, já que a margem estava obstruída e havia que saltar um muro para alcançar a calçada de acesso ao “moinho do Cruzeiro”.
A passagem do muro nem foi problemática, mas a proprietária é que não gostou da invasão e veio tirar satisfações aos intrusos, mas tudo acabou em bem e seguimos em frente sem mais constrangimentos.
A dificuldade veio depois, pois a passagem do rio junto ao moinho era uma autêntica ratoeira, com as pedras escorregadias a causar alguns calafrios e molhadelas. Seguiu-se a progressão pelo carreiro até uma velha ponte de cimento, em que cruzamos o Âncora pela 4ª vez, continuando lentamente pela margem direita na direção da “casa da Alhada”, onde voltamos a cruzar pela 5ª vez o Âncora, aproveitando para fazer a foto de grupo.
A partir daqui a progressão tornou-se mais difícil, já que que surgiram diversos obstáculos, que foram desafiando os participantes.
Primeiro foi o cruzamento do “rio do Poço Negro”, hoje quase seco, mas que mesmo assim obrigava a molhar os pés ou usar estratagemas para transpor o obstáculo. Uns descalçaram-se, outos passaram aos saltos, outras às cavalitas, outros usaram sacos de plástico e finalmente alguns seguiram em frente sem se importarem minimamente com a molhadela. Nem a nossa mascote Cindy teve qualquer problema em fazer a travessia várias vezes.
A seguir o caminho foi-se fechando e a dificuldade em vencer os muitos obstáculos que foram aparecendo ao longo da margem foi alongando a fila indiana, que tardou em agrupar.
Finalmente surgiu uma última dificuldade, pois o terreno debaixo do alto viaduto da autoestrada A28 foi completamente arrasada por máquinas de rastos, deixando os excedentes dispersos pela margem, tornando demasiado perigosa a passagem pelo carreiro dos pescadores, que foi engolido pelos excedentes. É lamentável o estado em que ficou a margem do rio que sofreu os trabalhos e mostra a falta de cuidado e sensibilidade perante este local de excelência, que bem merecia ser melhor tratado, pelo que a solução foi deixar a margem e cruzar o terreno arrasado pelas máquinas até conseguir retomar a margem, já na proximidade da Lagoa da “Esturranha / Estorranha”.
Aí esperava-nos a “equipa da cozinha”, que já sem muito que fazer se disponibilizou para ajudar de “todo o terreno” a última travessia do rio. Não foram muitos os que se baldaram à travessia pedestre, pelo que a maioria voltou a descalçar as botas, refrescando e massajando as solas dos pés nos seixos rolados da lagoa.
Ao longo deste trajeto passamos por 16 (dezasseis) moinhos de planície, uns ainda em estado de funcionamento, outros transformados em residência, outros há muito abandonados e em total ruina, o que evidencia a grande capacidade de moagem instalada, sinal da riqueza destas terras agrícolas do vale do Âncora.
Botas calçadas recomeçamos a subida pela margem direita na direção do “rio da Paradela”, que subimos até à EN 305 que cruzamos, seguindo para norte pelo estradão florestal que nos levou diretamente a “Vila Verde”, onde nos aguardava a prometida refeição.
Enquanto se fazia um compasso de espera pelos condutores que foram buscar as viaturas ao início do percurso, houve ainda tempo para visitar os interessantes “moinhos D’A Pardal”.
Deu-se finalmente início à refeição pelas 14:30, com um conjunto muito diversificado de entradas caseiras, seguindo-se as ditas Tripas à moda do Porto e Feijoada à Transmontana, terminando com uma enorme variedade de doçaria e fruta, tudo providenciado pelas “multas” solicitadas aos convivas, que se excederam na qualidade e quantidade presente.
Foi difícil fazer face a tamanho desafio, mas a caminhada matinal trouxe um alento suplementar que ajudou a provar de tudo, ou quase tudo, regando os “comes” com um verde branco fresquinho para as entradas e maduro tinto para o presigo.
Foi um belo convívio, em que a “equipa de cozinha”, constituída pelo mestre Pimenta, Maria das Dores e o Luís Santos, auxiliados na cozinha pela Camila, Manuela Rego, Isabel Freixo, Aurora, Luís Mauril, Manuel Rego, Armando e Abreu foi muito louvada e até ovacionada pelo empenho e brilho dos petiscos confecionados.
Agradecemos finalmente ao presidente da junta Sr. Paulo Alvarenga, que cedeu as instalações do Forno Comunitário de Riba de Âncora e a todos os que ajudaram ou contribuíram para o sucesso deste evento.
Pena é que a Câmara de Caminha e as Juntas de Freguesia ribeirinhas não valorizem convenientemente as belezas naturais do rio Âncora, facultando melhores acessos, limpando as suas margens e impedindo que alguns dos proprietários dos terrenos limítrofes se assenhoreiem de um recurso que é de todos, dando assim a conhecer um dos mais belos recursos naturais da nossa região.
Enfim, foi uma bela caminhada pelas margens do Âncora, seguida de um encontro gastronómico de truz, que deixa saudades e vontade de repetir em breve.
Parabéns a todos!
José Almeida
Miguel Moreira
Informação sobre os aspetos mais significativos:
Data | 2019-03-02 |
Hora de início | 09:06 |
Hora do fim | 13:50 |
Tempo total do percurso | 4h 43m |
Velocidade média deslocação | 2.0 km/h |
Distância total linear | 8.9 km |
Distância total | 9 km |
Nº de participantes | 44 |