Manhã cedo o dia apresentou-se bom para a realização de mais uma atividade do grupo VT. Quando cheguei ao local de encontro enquanto alguns tomavam café outros iam pondo a conversa em dia, esperando a chegada dos restantes.
Entretanto, já combinado, o Júlio e o Miguel, este vindo da zona da cidade da Maia, partiam á frente para ir deixar uma viatura no alto da serra em Lordelo.
Saímos de Viana já um pouco atrasados, passando pelos Arcos de Valdevez e sobre a Ponte de Vilela no rio Vez. O verde da paisagem nesta época do ano é deslumbrante, sendo que a viagem até Sistelo é muito agradável.
Chegamos a Sistelo (ver descrição de Aldeias de Portugal) no pequeno lugarejo mais parecia dia de festa pois no largo da estrada vários grupos de caminheiros preparavam-se para iniciar mais uma jornada de montanha. O colorido variado da cor das suas roupas como que animava o ambiente. Feitos os preparativos, enquanto uns seguiam em direção do rio Vez, nós iniciamos o percurso em direção à serra por entre o casario da aldeia a que agora por força do turismo, alguns resolveram chamar de “Pequeno Tibete Português” devido ao relevo dos socalcos que gerações ali esculpiram em redor, mas designação essa que não é bem vista pelos seus habitantes.
A relação do Homem com a montanha e o rio levou, em 2009, a que fosse
proposta a sua classificação como Paisagem Cultural Evolutiva Viva!...
Ainda há bem pouco tempo esta aldeia com cerca de 300 habitantes às portas do
Parque Peneda/Gerês esteve ameaçada por um projeto de mini-hídrica no rio Vez,
que lhe poderia mudar toda a paisagem.
Em Dezembro passado a Câmara dos Arcos anunciou a candidatura para a classificação da aldeia de Sistelo como Paisagem Cultural.
Passadas as ultimas habitações, seguimos através de uma das muitas antigas calçadas de servidão da aldeia, no ir e vir da serra, ladeada por muros cobertos de verde musgo devido á sombra do imenso carvalhal. Durante grande parte da subida, pelo nosso lado direito e no fundo do vale acompanhava-nos o rio Couço. Pelo caminho breves paragens eram aproveitadas para fazer o registo fotográfico de tudo aquilo que a Natureza nos ia oferecendo. Passamos junto á antiga “Branda de Poços” e o local foi escolhido para retempero de energias e ao mesmo tempo para esclarecimentos aos novos companheiros admirados com os “abrigos” aí existentes.
Já bem no cimo da serra, cruzamos o ribeiro do Couço e logo atingimos o ponto mais elevado deste percurso junto ao cruzamento das “Alminhas da Chã do Couço” local já por nós visitado em diversas ocasiões, e chegamos á pequena aldeia de Lordelo, “terra da Vaca Cachena” de cujo leite se produz um dos melhores queijos desta região. Esta aldeia localizada no interior da área do Parque Peneda/Gerês é caracterizada pelos muitos locais de recantos e encantos, assim como pela sua localização no alto de um valioso anfiteatro de socalcos onde estão situados os seus campos de cultivo, que do alto, partindo da aldeia se projetam para o fundo do vale por onde corre o rio Ramiscal, considerado um dos últimos refúgios da águia-real. Do outro lado do vale, para sul e em posição semelhante, está outra aldeia, a de Avelar.
Aqui nesta aldeia de montanha de Lordelo não passam transportes públicos. Os habitantes, quando têm de ir ao médico, pedem boleia a algum familiar ou amigo, ou então não há outro remédio que não seja chamar um táxi, cujo custo para uma viagem de ida e volta aos Arcos de Valdevez que dista cerca de 20 Km, local onde se encontra o centro de saúde custa há volta de 40 euros, demasiado caro para quem recebe uma curta e às vezes nenhuma pensão!...
“ISOLADOS - Portugal é o 6º país mais envelhecido do mundo, algo que contrasta radicalmente com o que se verificava na década de 1970. Era então o menos envelhecido da Europa e, mesmo que esta seja uma realidade transversal a todo o continente, o fenómeno português teve um crescimento mais acelerado do que o que aconteceu nos seus parceiros europeus. A idade média da população portuguesa, que em 1960 não passava dos 28 anos, atingiu em 2011, 42 anos. O número de pessoas com menos de 15 anos é hoje inferior aqueles com idade igual ou superior a 65 anos. Mas este é também um país onde os mais velhos vivem mais isolados!...
Esta é a conclusão de um estudo de “Aldeia Feliz da Universidade do Minho”.
Tiradas as fotos da praxe e feita a despedida ao grupo do Miguel, que tinha vindo cá acima deixar o carro juntamente com o Júlio, para que pudesse regressar a tempo para um funeral em Amarante, deixamos Lordelo virando a sul e descemos para atravessar o ribeiro da Corga de Mangão, subindo agora através de outra calçada a meia encosta que nos levou pela zona de Codeceira e Covas acompanhando o Vale do Ramiscal.
A paisagem era de grande beleza serrana, do outro lado do vale via-se Avelar com o seu casario espalhado por cima do vale. Para montante por cima da profunda garganta podiam-se vislumbrar locais já nossos conhecidos e percorridos, “os Bicos” e mais para cima, bem lá no ponto mais elevado da serra o “Alto da Pedrada”.
É linda a serra da Peneda!
Continuamos e em breve chegamos á aldeia de Vilela Seca, local que cruzamos e onde num dos seus campos sob a sombra protetora de um grande carvalho fizemos o reabastecimento e batismo dos novos caminheiros, Olinda, Isabel Sá e Isabel Puga, entronizados ao som do tradicional “Arriun Porun, Bota abaixorun, Amém”.
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Continuamos, o tempo quente incomodava, felizmente a natureza dava o seu contributo protegendo-nos com a sombra da floresta. Ao passar junto de um castiço cruzeiro colocado ao lado do caminho o mesmo foi aproveitado para se fazer a foto de grupo. Mais á frente visitamos a pequena ermida de N. S. das Necessidades local de um antigo Castro. A partir daqui abandonamos o vale do Ramiscal e viramos para norte dobrando a portela do monte e continuamos para a meia encosta já com vista para o vale do rio Vez, através dos lugares de Freita, Roçadas até ao lugar de Portal Cerdeira, por onde descemos cruzando a EN até atingir o rio Vez, e continuar agora por um antigo caminho subindo o mesmo pela sua margem esquerda em direção de Sistelo.
Belo trecho este, através de um bosque de folhosas da beira-rio, sempre com o rio um pouco abaixo de nós. Ao chegar junto da capela de N. S. dos Aflitos cruzamos o rio num local aproveitado por várias pessoas como praia fluvial, e continuamos agora sobre um dos passadiços da Ecovia do Vez em que a meio do mesmo se precipita uma pequena queda de água. Mais á frente voltamos novamente a cruzar o rio sobre a antiga ponte em granito que nos levou até Sistelo.
Aqui chegados, tempo houve ainda para uma visita aos locais mais emblemáticos da aldeia, assim como o atenuar da sede no chafariz do largo central ou no típico café/mercearia.
Feitas as ultimas conversas e despedidas, alguns rumaram ainda a terras limianas até Cepões onde se realizou um lanche ajantarado previamente marcado e bem servido.
Bela etapa de montanha! até á próxima.
Miguel MoreiraSistelo foi primitivamente uma Póvoa medieval, de cujo período parecem sobreviver traços em elementos como a implantação do cruzeiro, do fontanário ou na organização do casario.
O meio envolvente...
O elemento de arquitetura mais destacado é, contudo. bastante mais recente. Trata-se da denominada "Casa do Castelo", um palácio revivalista de planta retangular, com duas torres com ameias a ladear o frontispício e um jazigo Neogótico. O conjunto, que domina uma paisagem natural de inegável beleza, foi edificado na segunda metade do século XIX por um natural da freguesia regressado do Brasil, e primeiro Visconde de Sistelo, Manuel A. Gonçalves Roque.
Sistelo é famoso pelos seus socalcos, que surgem pela necessidade de aumentar a superfície agrícola e de contrariar os declives. São plataformas mais ou menos planas de solo profundo e fértil, construídas nas vertentes das montanhas, sobrepostas umas às outras em escadaria e suportadas por grandiosos muros de pedra. Estas estruturas permitiriam o desenvolvimento de uma agricultura de subsistência de extrema importância para a sobrevivência das comunidades rurais.
Associados a estas plataformas, construíram-se canais destinados ao transporte de água dos pontos mais altos das montanhas, poços e cursos de água, para os campos.
Estes canais, que em alguns casos se estendem por dezenas de quilómetros, denominam – se de regadios e são fundamentais para a subsistência das culturas nos meses de Verão.
aldeiasdeportugal.pt
Outrora foi Sistelo vigararia anexa de S. Salvador de Cabreiro, a próxima freguesia que vês acantonada nas crespas elevações da montanha, batida por um ar puríssimo, e fertilizada por o rio do seu nome – Cabreiro – gozando perfeitamente a fama de terra salubre, como atestam os seus vigorosos habitantes, que não raro ultrapassam os limites de uma senilidade octogenária.
Vai longe a noite da barbárie e entretanto a tradição ainda chega até nós
como fio ténue de um ribeiro, que se tresmalhou pelas quebradas da serra.
Ouço distintamente a sua voz e um queixume brando de resignação e agonia, parece
evolar-se dali, daquele poço de Portocales, que muje ao fundo da enorme laje
escorregadiça, sítio onde as águas caídas do Outeiro Maior são atravessadas por
uma tão singela como antiga ponte.
Ouço distintamente esse gemido a dor aflitiva de uma vida que se esvai, embora resignada, embora voluntária.
Aproximo-me da margem e recuo de horror. O corpo de um pobre velho mergulha ensanguentado nas águas sinistras do abismo. Seria um suicídio ? Não.
Tranquilamente, no alto, um homem impassível como a estátua da indiferença, espera a última vibração dessa agonia curta. É então o assassino?
É o parricida, é o filho.
O filho, imaculado como a túnica da lei, tranquilo e sem remorsos, consciente de haver cumprido um dever sagrado, imposto pelo código da tribo, pelo costume bárbaro, pela necessidade feroz que ordena o sacrifício de todo o velho inútil.
Madrugada ainda, dois homens caminham pelas veredas sombrias da montanha. Um é vigoroso e forte, o sangue cantábrico nas veias; adivinham-se por baixo dos seus vestidos de peles os músculos valentes como aço, o peito largo, o braço possante de guerreiro.
Caminha entretanto devagar. Uma oscilação do seu espírito? Quem o sabe!
Talvez que para não fatigar o companheiro, o pobre velho alquebrado de forças
octogenário e trémulo, cego quase na noite da sua existência. Adivinhava-se que
era pai e filho.
O novo, mais fatigado talvez da condescendência que da marcha que trazia, tomou então às costas o ancião. Desta vez caminhava seguro, apressadamente, o passo firme e cheio. Foi assim durante algum tempo.
- É longe ainda a jornada, meu filho?
- Para perto, respondeu bruscamente.
Um sorriso de melancolia indizível passou então nos lábios trémulos do velho e a sua voz, como um gemido antecipado, murmurou clara:
- Bem sei, meu filho, levas-me onde eu levei teu avô e onde teu filho te há-de trazer um dia.
Estas palavras foram como uma revelação da brutalidade da lei, como o alvor de uma aurora, que havia de chegar um dia. O filho não comentou o parricídio – diz a lenda – e o costume bárbaro cessou desde esse momento. Esse momento, sabes tu, chama-se civilização.
Abençoado sol.
José Augusto VieiraMinho Pitoresco
Informação sobre os aspetos mais significativos:
Data | 2017-04-08 |
Hora de início | 09:20 |
Hora do fim | 16:54 |
Tempo total do percurso | 7h 33m |
Velocidade média | 2.75 km/h |
Distância total linear | 16.4 km |
Distância total | 16.6 km |
Nº de participantes | 26 |