2013-10-26 Por Vila do Conde até Vila Chã

Às 09:15 estávamos no estádio do Rio Ave, prontos para mais um passeio, depois de uma semana chuvosa, em que mal deu para pôr a cabeça fora de casa.

Aguardava-nos o Fernando Vilaça, organizador desta atividade, já por duas vezes anulada, pois o seu traçado junto ao litoral, recomendava condições meteorológicas favoráveis.

O percurso começou logo a seguir à distribuição dos folhetos pela Manuela e o Rego ter feito a entrega dos polos, com o logo do grupo, a quem os encomendou. Já agora informo, que não se aceitam mais inscrições para polos, pois prevemos optar agora por um de manga comprida, ou uma camisola, mais propícia para o frio que se aproxima a passos largos.

Passando defronte da Igreja da Lapa, fomos seguindo o imponente aqueduto que transportava a água da Póvoa para a Igreja e Mosteiro de Stª Clara.

As vistas do mosteiro para a foz são belíssimas, podendo-se alcançar praticamente toda a cidade, pena é o seu deplorável estado de conservação, que está a levar à ruína esse autêntico ex-libris de Vila do Conde.

Atravessamos a ponte do rio Ave e entramos na freguesia da Azurara, onde pudemos apreciar a sua Igreja Matriz e, mais adiante, o convento de S. Francisco, pouco antes de entrar na Reserva Ornitológica de Mindelo.

O percurso passou a ser pela orla marítima, aproveitando sempre que possível, os passadiços de madeira que foram instalados.

É pena que não haja uma continuidade desses passadiços ao longo das dunas, pois seria bem mais agradável fazer o percurso, com o mar sempre à vista, sem ter que sistematicamente procurar alternativas à falha de passagem pelo litoral.
E foi um desses troços que motivou algumas belas fotos e muita risada. De repente, a meio de um areal, ficamos com a progressão cortada por um regato! Voltar atrás, nem pensar!

Havia que tirar as botas e molhar os pés!

Algumas damas foram gentilmente transportadas de charola pelos sempre disponíveis cavalheiros, mas a generalidade teve mesmo que tirar as botas e atravessar o regato, para prosseguir a viagem pela costa.

Chegados a Vila Chã, encontramo-nos com o Ernesto, que nos aguardava, já que não pode fazer o percurso connosco. Depois de uma curta pausa de reagrupamento, seguimos para o Castro de S. Paio, cujos parcos vestígios sinalizam o único Castro Marítimo português.

A refeição foi na enseada abaixo do castro, onde se fez a costumeira troca de farnéis e se tratou da logística associada ao metro, pois a “organização” tinha entretanto adiantado o serviço, pela compra antecipada dos andantes.
O pior foi depois… já que havia que apanhar o dito cujo Metro… e era bem longe de Vila Chã!

Foi a parte mais desinteressante do percurso, que obrigou a calcorrear caminhos de aldeia, até que por fim, lá apareceu a bendita linha do Metro.

Chegados a Vila do Conde, descemos à marginal e seguimos pela Praça da República, seguindo-se o Largo da Alfândega, com a nau quinhentista a encher a vista de todos pelo seu imponente porte, seguindo-se a interessante capela de Nosso Senhor do Socorro.

A próxima etapa foi seguir a costa até à capela de Nossa Senhora da Guia, logo seguida pelo Forte de S. João Batista.

Continuamos pelo passeio marítimo, com o Vilaça à frente, sempre atento e a controlar as operações, quando o Miguel deu por falta de 2 dos companheiros do grupo, o que obrigou a que todos tivéssemos que parar, para perceber o que teria acontecido.

Afinal a demora deveu-se a uma inopinada visita ao museu da marinha e à nau quinhentista, o que provocou a cisão do grupo, só reagrupado passado largos minutos, já no Jardim Júlio Graça.

Isto de andar em grupo tem as suas regras e quem manda é o Guia!

A próxima paragem foi no largo dos Passos do Concelho e Igreja Matriz, belo conjunto arquitetónico, muito valorizado por recente intervenção.

O tempo voava, o cansaço era enorme! A sede e fome também apertavam, pelo que a próxima paragem foi na Adega do Testas, onde estava já preparado o “lanche ajantarado” que se impunha.

Foi um fim de festa à altura do percurso, pelo que tudo acabou em beleza.

Parabéns muito especiais ao pequeno Francisco Martins, filho da Cristina e neto da "veterana" Bia, pois aguentou sem aparente esforço os 24,4 Km do percurso. Foi obra!

Uma última palavra para o Fernando Vilaça, que se esmerou na organização pedestre e gastronómica, mais uma vez demonstrando que não se brica em serviço!

José Almeida

Vianatrilhos

Visita a Vila do Conde e caminhada a Vila Chã

Nesta 1ª visita a Vila do Conde propomo-nos visitar Vila do Conde e arredores. Noutra altura conheceremos a parte cultural e os escritores que passaram por Vilado Conde : José Régio , Ruy Belo , Guerra Junqueiro , Antero de Quental e Eça de Quierós .

No inicio da Caminhada deparamos com a Igreja de Nossa Senhora da Lapa , erigida no sec XVIII sobre as de uma ermida devotada a S. Bartolomeu e com fachada barroca , segunda consta com risco de Nicolau Nazoni .

De seguida acompanhamos o Aqueduto que transportava a água desde Terrroso ( Póvoa ) até ao Mosteiro de Santa Clara . O aqueduto foi edificado entre 1626 e 1714e é o segundo mais extenso do País e marca a imagem da cidade.

A igreja de Santa Clara de estilo gótico foi erigida em 1318 e tem túmulos, de importantes figuras da nossa história. Tem um fontanário celebrando a chegada da água pelo aqueduto. Daqui temos uma vista soberba sobre a cidade.

Continuando a caminhar passamos a ponte sobre o Rio Ave e subimos para Azurara. Encontramos a Igreja Matriz concluída em 1522.Realce para o pórtico encimada por uma cartela azulejada, assinalando o enfiamento da barra do Rio Ave . No interior do Pavimento encontramos siglas que terão sido marcas de pescadores locais .

Caminhamos em direcção ao mar e entramos na Reserva Ornitológica de Mindelo que é formada por praias, dunas, campos agrícolas e florestas sendo atravessada por uma Ribeira (Silvares). Chegados à praia de Laderça observa-se o Penedo de Guilhade já assim designado nos finais do século XVII, chegamos ao lugar do facho e já estamos em Vila Chã , esta terra dedicava-se à faina da pesca que era exercida por pescadores e lavradores. Chegou a ocupar 230 pessoas entre homens e mulheres , actualmente não há mais que uma dúzia de barcos.

Seguimos para Labruge e encontramos o Castro de Sampaio, único Castro Marítimo português. A cultura castreja confirma a vocação marítima desta região desde a idade do ferro. Nos rochedos são visiveis insculturas pré e proto-históricas.

O regresso é de Metro e de novo estamos junto ao Rio Ave .Seguimos até à Foz e encontramos a Nau Quinhentista, o Museu de Construção Naval em madeira na Alfandega Régia.

A Capela de Nosso Senhor do Socorro erguida em 1603 tem uma cúpula branca que se destaca na paisagem e no seu interior tem uns belos azulejos do sec XVIII.

De seguida encontramos na foz do Rio Ave a capela de Nossa Senhora da Guia , das mais antigas de Portugal já referenciada em 1059 e faz parte dos roteiros de Régio, Antero e Ruy Belo.

Continuando à beira mar passamos pelo Forte de S. João Batista cuja zona foi recentemente intervencionada por Siza Vieira. Caminhando para o interior da cidade passamos pelos Passos do Concelho cuja praça tem um pelourinho manuelino e que foi intervencionada pelo arquitecto Fernando Távora com a colaboração do Companheiro arquitecto Fernando Barroso.

A Igreja Matriz é dedicada ao padroeiro da Vila ,S. João Batista . Obra do século XVI foi iniciada pelos Vilacondenses e acabada com ajuda do rei D. Manuel I. Nesta Igreja foi baptizado Eça de Queiroz.

Depois de passarmos pelos Jardins do Centro de memória terminamos a nossa caminhada com um até breve a esta terra "Espraiada entre pinhais, rio e mar"

Fernando Vilaça

Vianatrilhos


Caminhada por terras de Vila do Conde

Próximo dos emblemáticos arcos que suportam o granítico aqueduto vindo de Terroso, no dia 26 de Outubro de 2013, estacionou o grupo Vianatrilhos, recebido por um dos seus componentes e amigo de longa data, o Fernando Vilaça, que nos conduziu por terras de pescadores, armadores, rendilheiras, poetas e escritores. Vila do Conde, nobre e bela, camponesa e marítima tem um património social e arquitetónico invejável, banhada pelo Atlântico, onde desagua o rio Ave, de forma estreita e pachorrenta. Aqui nasceram e viveram aventureiros marítimos que passaram "além da Taprobana"

Nesta cidade, que para sempre será Vila do Conde, pontifica o Mosteiro de Santa Clara, instituído em 1318 com o fim de acolher fidalgos pobres ou ricos, reconstruído tal como hoje é na segunda metade do séc. XXVIII, mas com a extinção das ordens religiosas, passou para o Estado, começando por ser ocupado por crianças, jovens delinquentes, tipo casa de correção. Atravessamos o rio Ave e depois de avistarmos a vetusta igreja românica de Azurara e tirada uma foto, caminhamos na direção da beira-mar, por uma zona descampada, interessante para a ornitologia, com sapais devidamente assinalados.

Fomos andando pela beira-mar, mas a páginas tantas, tivemos de nos descalçar para saltar um riacho e alcançar o areal e todas as praias a norte até ao Mindelo, Vila-Chã e às portas de Lavra. Achei engraçada Vila Chã, portinho piscatório, com o seu casario marítimo típico, com bares e restaurantes, apelidados de Salitre, taskuinha, barraquinha, pucinho. Chegamos ao fim da caminhada, onde um marco geodésico e as pedras amoladoras marcam presença, para além do castro Sampaio, reminiscências vivas da presença de antepassados. Aqui mesmo aconchegamos o estômago e regressamos, depois, calcorreando ruas empedradas até ao metropolitano de superfície, atravessando Vila Chã, de lés-a-lés. Chegamos a Vila do Conde, onde pudemos admirar a rendilheira e as rendas de bilros, atividade que data do início do séc. XVII, a alfândega régia, onde se instala o Museu da construção naval e a mulher do pescador, sentada com um lenço na mão à espera do marido que anda na faina da pesca. A NAU quinhentista, em réplica, é digna de um olhar histórico.

Visitamos a capela de Nossa Senhora do Socorro, do início do séc. XVII e a capelinha virada ao Atlântico da Srª da Guia e o forte. Já fatigado do piso citadino, ainda passamos na praça do município, recentemente remodelada segundo o projeto dos arquitetos Fernando Távora e Flipe Barroso, este, companheiro do Vianatrilhos. Ali ao lado, mora a matriz de Vila do Conde, onde foi batizado Eça de Queirós.

Para além deste escritor notável, seria imperdoável não referir José Régio, vila-condense de gema, com uma obra literária suprema. Outros insignes homens de letras se ligaram a esta nobre tema, tornando-se vila-condenses de coração, como: Ruy Belo, Gomes Leal, Antero de Quental e Válter Hugo Mãe. Outros escritores viveram, temporariamente, Camilo Castelo Branco e Couto Viana. Finalmente, com larica e a secura a tomar conta do corpo e do grupo, entramos na Adega do Testas, com a especialidade de grelhados em carvão. Nada faltava e os petiscos eram saborosos. Daqui parti para Guimarães, com um abraço de despedida do caminheiro Fernando.

Para terminar esta breve crónica, aqui vai um naco de história.

Vila do Conde ficou amarrada, historicamente, ao Liberalismo, pois, em 8 de Julho de 1832, desembarcaram as tropas liberais, os chamados "bravos do Mindelo", na praia de Arenosa de Pampelido, também conhecida por "praia dos ladrões", na fronteira de Lavra com Perafita onde de instala o alusivo obelisco da memória, mandado construir pelo Duque de Avila, a expensas do povo. Para a história ficou, no entanto, o desembarque do Mindelo.

Ficou célebre a história do peixe dos três efes. Os moradores de Pedras Rubras fizeram, aquando do desembarque, grande negócio com a venda de petiscos aos soldados. Porém, um oficial de barbas grandes entrou numa taberna e perguntou.

- O que há para comer? - E o vendeiro respondeu-lhe

- Há peixe dos três efes, patrão! - Não tendo o oficial conseguido decifrar a mensagem, inquiriu.

- E o que quer dizer isso?

- É faneca, fresca e frita - respondeu o vendeiro

O militar comeu uma faneca, tomou café, que mandou preparar, e meteu a mão ao bolso para pagar; porém, apercebeu-se que não tinha dinheiro. Ficou pálido e procurou desenvencilhar-se, airosamente da situação, pedindo ao vendeiro que acrescentasse, então, outro F ao peixe "faneca fresca, frita e fiada". O vendeiro zangou-se muito, mas o oficial deitou-lhe uns olhos que ele nem sabia onde meter-se, e não lhe deu mais uma palavra.

Daí a pouco o militar regressou e perguntou ao vendeiro se era o dono da casa. Este respondeu-lhe ainda cheio de medo, que não, mas era como se fosse, porque estava para casar com uma filha do patrão.

- Mas, se o senhor oficial quer mais alguma coisa é só dizê-lo e pagará depois quando por aqui passar.

- Obrigado — retorquiu o militar - mas não tenciono tornar a passar por aqui, agradeço-te a franqueza e, dado que estás para casar, aqui tens duas peças de ouro para comprares uns brincos para a tua noiva. Adeus!

As tropas, no dia seguinte, iniciaram a sua marcha rumo ao Porto, e o vendeiro, que estava à porta a desfrutar o espetáculo do desfile, reconheceu o oficial de barbas a cavalo no meio de outros que lhe falavam com muito respeito e cortesia. Nesse momento, ficou a saber que se tratava de D. Pedro IV e a partir daí nunca mais deixou de chamar à faneca o peixe dos quatro efes.

D Pedro IV teve entrada triunfal no Porto, a quem apelidou de "mui nobre, sempre leal e invicta cidade", não tardando a ser cercado pelas tropas absolutistas do irmão Miguel. O povo sublevou-se e apoiou o Rei Liberal.

Em homenagem de gratidão à cidade do Porto, D. Pedro ofereceu a espada de D. Afonso Henriques e doou seu coração à cidade, guardado na Igreja da Lapa.

Luís Gonçalves

Vianatrilhos

Dados do percurso

Informação sobre os aspetos mais significativos:

Data 2013-10-26
Tempo de deslocação 03h 50m 01h 43m
Tempo parado 02h 00m 01h 58m
Deslocação média 4,8 Km/h 3,7 Km/h
Média Geral 3.2 Km/h 1.7 Km/h
Distância total linear 18.1 km 6.3 km
Nº de participantes 34 34