2013-02-09 À Pedrada pelos Poulos do Maranho

“Montanhas Lindas”

“Subir Até ao Alto da Pedrada pelos Poulos do Muranho”  (Exploração)

O Desafio já há muito estava lançado, isto após se ter lido as páginas do Ventor e as histórias das suas “Montanhas Lindas”.

Finalmente fomos concretizar esse desafio.

São lindas ao sol, à chuva, no horizonte da escura noite. São belas!
Vocês nunca compreenderão o que são montanhas…
Se não as pisarem comos próprios pés;
Se não sentirem na biqueira da bota a carícia da pedra;
Se não sentirem na canela o roçar espinhoso do tojo;
Se não receberem, de volta a meiguice da giesta no retorno, querendo repetir o contacto;
se não sentirem no nariz o vergastar da urze, porque pisada, torcida, descascada requer vingança por atroz atrevimento;

Eu cheguei, olhei e verifiquei o que já sabia. Lá longe, sempre ao longe, as montanhas apelam à minha presença.

« Anda Ventor! Tu és o filho do nosso contentamento. Tu beijas-nos com o teu olhar sereno, e fazes passar sobre nós os rios de alegrias do nosso passado. A tua presença, é para nós, a vontade de permanecer robustas e eternas. Por ti enfrentamos todas as forças abrasivas dos dilúvios seculares, que permanentemente, nos vergastam nos Invernos rigorosos das investidas furiosas dos deuses que, “macabros”, tudo fazem para nos planar.

As águas que vês correr pelas nossas encostas, são lágrimas de felicidade provocadas pela alegria ímpar das musas que, no seu contentamento, extravasam cânticos, pela tua chegada, chorando as tristezas dos tempos de espera.

Ouves Ventor? Aos nossos murmúrios juntam-se os murmúrios das Tâgides, que te acompanham, pelas nuvens, receosas que com elas não queiras voltar! No alto da Derrilheira, elas cantam e dançam em tua honra, juntamente com as sempre eternas e murmurantes musas das fontes!

Na Fonte da Naia, chora-se a tristeza de lá não passares. Nos Cortelhos do Muranho, as almas suevas, aguardam em vão a tua passagem, na tristeza incontida da espera. No alto da Portela, a senhora da Peneda, espera que o teu sorriso abrace os vales que o levarão até à Meadinha, mas no seu cândido olhar, só te aguarda, acompanhado de Apolo, no próximo Verão!

No Alto do Gondomil, há uma assembleia dos duendes, para convidar-te a uma subida, e olhares, pelo menos, os choros das meia-encostas, enquanto na nascente das Fontes, as musas te abraçam e beijam com a mais pura das águas, que tu nunca te cansas de olhar, tocar e beber!

Todas as montanhas estão em festa, cantando, chorando, murmurando! Ventor...Ventor … Ventor.!!!!!!!!

Em cada gota de água, há uma lágrima, de Diana, pelos tempos perdidos nas caminhadas que nunca deveriam ter fim. Vénus chora de inveja, de te olhar alegre e espreguiçando-te ao raiar da aurora, sempre cheio de pressa na tentativa de subir a serra, antes de Apolo começar a queimar.

Neptuno ruído de inveja, lança cântaros de água, sobre tudo que é passagem, tentando que esmoreças a vontade de te aproximares das fadas nebolosas que lhe alimentam o mar.

As nossas lágrimas, enchem as córegas de água, para regar os matos, os arbustos, as ervas, e as árvores, que tanto nos embelezam, e que no próximo Verão te aguardarão, verdes de esperança para te abraçar quando voltares resoluto e pronto a subires nas nossas verticais, até ao horizonte mais vasto, do nosso contentamento – a Pedrada.

Verás as rezes dos rouceiros, os garranos e os gados soajeiros que montanha acima te aguardarão no alto da Pedrada, na Fonte das Forcadas, na Corga da Vagem, na fonte do Avô, no Poulo dos Bicos, no Muranho, no Curral do Pai, na Seida, no Fojo do Lobo e em tudo que a alma sueva se encontre representada»!

Esta, é a mensagem que as montanhas da minha serra de Soajo me transmitiram, e que eu retransmito a todos os meus amigos perdidos por este espaço virtual.

Mas o Ventor continua pelas suas montanhas e vai descendo até às Antas do Mezio. Ele não se cansa de falar delas. Venham comigo e ouçam-no ou então regressem à Grande Caminhada. Lá haverão outros motivos.

 

in adrao.com.sapo.pt

À Pedrada pelos Poulos do Maranho

Foi este o mote para irmos ao encontro do dito desafio.

De manhã fomos subindo à serra com os rostos gelados pela frescura matinal da montanha. Vistas deslumbrantes recortadas pela neblina da serra. Pelo caminho cruzamo-nos com uma equipa de geólogos do Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos da Universidade do Porto (CIBIO),.que após conversa verificamos se encontravam em trabalho de campo sobre o Lobo Ibérico, com mantivemos breve conversa.

A longo do dia e pelo caminho pudemos encontrar grande quantidade de excrementos denunciadores do dito animal, sinal da sua presença, talvez até observando os nossos movimentos.

Continuamos subindo, passando pela Cruz do Naia, Chão do Boi, e ainda mais para cima em lugar de Veranda, pelos Poulos do Muranho com a sua fonte, onde dizem vêm beber as “Ninfas do Parnaso”. Os abrigos (cortelhos) do Muranho serviam e servem ainda de refúgio aos pastores, que perdidos no tempo, por ali andaram.

Já no cimo , ao atingir o Alto da Derrilheira ou Serrinha, é de cortar a respiração com as vistas que daqui se disfrutam. Aqui em lugar de destaque na base de um cruzeiro derrubado pode-se ler uma singela prece “Jesus, protegei as serras do Soajo”. Conta o Ventor que quando pequeno andando por estas montanhas, olhava lá para longe e via muitas fumarolas. Um dia, pegou na mão do pai, e perguntou-lhe apontando, porque havia aqueles fumos nos montes, e opai respondeu-lhe que eram os “carvoeiros”. Um dia subiu ao local. Viu homens e mulheres junto de três fumarolas, na azáfama diária do fabrico do carvão das raízes das urzes. Depois havia que o transportar, montanha abaixo, muitas vezes para longas distâncias, inclusive para os Arcos de Valdevez”.

Aqui do Alto da Derrilheira, vê-se Adrâo, Bordença, Assureira, Busgalinhas, Peneda, e todas as serras envolventes, até terras de Espanha.

Continuamos subindo mais um pouco em direcção do ponto mais elevado de Outeiro Maior, um pouco mais para norte, para do extremo desta elevação, para podermos estender a nossa vista, vendo os muros convergentes que formam o fojo do Soajo, e a Branda de Seida.

Através da imensidão que a nossa vista alcança, ver-mos ainda, Lamas de Vez, o Alto do Pedrinho, o fojo de Colmadela, e todo o esplendor da serra. A Corga da Vagem ficava a nossos pés, separando-nos do Alto da Pedrada já bem perto de nós, e visitado em ocasião anterior.

As barrigas batiam horas e pediam algo, pelo que, protegidos do vento por enormes massas de granito pudemos digerir algo. Enquanto isto, pudemos observar caminheiros que atingiam o Alto da Pedrada, mas que nem de nós se aperceberam.

Realizado o reabastecimento, e após um último olhar cá do alto, e sentindo já o esfriar do astro-rei, encetamos o regresso, já com alguma sombra projectada pelos altos picos da serra.

Chegados às viaturas, no final, ainda paramos na Porta do Mezio (fechada), o que não impediu que se saboreasse um bolo confeccionado pela companheira Laura, regado com espumoso, forma de comemorar o seu aniversário. No pequeno café aí existente houve ainda oportunidade para trocar conversa com alguns naturais que disputavam uma partida de sueca, e nos contaram algumas das suas vivências na Serra do Soajo.

Belo dia de montanha.

Miguel Moreira

Vianatrilhos

Dados do percurso

Informação sobre os aspetos mais significativos:

Data 2013-02-09
Tempo de deslocação 03h 48m
Tempo parado 02h 47m
Deslocação média 3,5 Km/h
Média Geral 2 Km/h
Distância total linear 13.11 km
Nº de participantes 8