2012-09-22 Trilho do Caminho dos Mortos

Começamos junto à igreja de Merufe e descemos pela estrada M501 até à capela do Sr. dos Passos, cujo logradouro foi entretanto transformado num parque multifunções, que era o local marcado para o início do percurso do "Trilho do Caminho dos Mortos", onde nos esperavam mais alguns companheiros provenientes do Porto e Valença.

Defronte da Capela da Srª dos Remédios, iniciamos a subida percorrendo trechos muito interessantes de caminhos rurais e de montanha, que conferem ao percurso o seu curioso nome, já que também eram utilizados para o transporte dos mortos, desde os recônditos lugares da montanha, até ao cemitério de Merufe, localizado junto ao antigo convento de Merufe, então designado como Convento das Irmãs Bentas, local de refúgio para os peregrinos que por ali passavam em romagem a Santiago de Compostela. Deste apenas resta a pia batismal e a igreja, entretanto profundamente remodelada no sec. XVIII.

Na parte da manhã seguimos junto à margem do rio Sucrasto, em caminhos semiabandonados, que nos obrigou a algum trabalho de limpeza de mato.

Depois de passar por alguns moinhos, perdidos na densa vegetação que os dissimulava quase por completo, fizemos uma primeira pausa antes de entrar no lugar de Arado.

O silêncio da serra era apenas sobressaltado pelas conversas dos caminheiros e aqui e ali pelo cacofónico soar das taramelas, destinadas a assustar pássaros e demais "bicheza" das culturas.

No Arado, um destaque aos espigueiros bem enquadrados no centro da povoação e às típicas medas de palha, semeadas pelos socalcos, testemunhos da cultura do milho, que se utilizam nesta época para guardar a palha, para dar aos animais no inverno.

Aí abandonamos o trilho, para ir até Portela de Alvite, onde fizemos a pausa de almoço, tendo o grupo se repartido entre o café da bomba, em que alguns preferiram a malguinha de tinto e o petisco, e o parque de merendas, junto às instalações da feira do gado.

Em Portela de Alvite realiza-se anualmente, no recinto da feira do gado, certame dedicado ao mundo rural, que compreende a feira do garrano, concurso de gado, corridas de cavalos, encontro de folclore, cantadores ao desafio, atuação de ranchos folclóricos e concentração de grupos de bombos.

Depois de almoço continuamos para o "caminho dos mortos", na direção de Rouças, onde um local nos contou pormenorizadamente as suas andanças com os mortos.

Assim, quando havia uma morte no lugar, depois de colocado no caixão, o cadáver era transportado à vez em ombros, por 2 ou mesmo 3 equipas de quatro homens, que faziam a sua última viagem até ao cemitério, e só na sua proximidade, "por respeito" era transportado "ao cinto", para a sua morada final.

O percurso era difícil e mesmo perigoso no inverno, quando era necessário mais que força... valentia, para o padre, transportadores e acompanhantes, conseguirem transpor os ribeiros, engrossados com as águas de montanha.

Acabada a conversa, acabou-se o descanso e continuamos a nossa subida na direção das eólicas.

Aí a coisa piorou bastante, pois a subida era difícil e as pernas já acusavam o cansaço natural do início da época, pelo que o grupo se separou, uns seguindo a meia encosta pelo estradão principal e outros, fazendo das tripas coração, subiram a pulso o declive.

Depois de curto descanso atravessamos a chã, onde pudemos observar o que resta da Mamoa do Cotinho, vestígio das primeiras civilizações que assentaram nesta região no 4° milénio A.C., que teria sido um monumento funerário coletivo e local de culto.

Mas como quem sobe... a seguir desce, lá tivemos que descer "a pique" rodeados de denso bosque de cedros, até ao local onde nos esperavam o outro grupo, em amena cavaqueira.

Força! Rápido! Vamos embora! Esse passo mais estugado! gritavam de troça aqueles que trocaram o esforço da subida pelo bem bom... mas a uma brincadeira... nunca ninguém leva a mal!

Refeito o grupo, um pouco adiante, na chã dos Fiãis, deparou-se-nos um admirável exemplar de um muro de pedra, que pela sua perfeita execução, mereceu a unanime apreciação do grupo, tendo o Filipe Barroso enriquecido o seu vasto espólio fotográfico, com mais este excelente testemunho da arquitetura tradicional do Alto Minho.

A pausa também serviu para nos recordar que ainda faltava a tradicional foto de grupo, mas foi a custo que se conseguiu juntar todos os presentes, pois alguns já tinham entretanto desarvorado serra abaixo, sem tempo para apreciar estas belezas.

Continuamos para Cernades, mordiscando aqui e ali o que ia aparecendo no caminho, ou amoras, ou figos ou mesmo umas belas uvas morangas.

O Mesquita primo é que apanhou um susto, pois uma das já ressequidas botas, recusou-se ao esforço e separou-se em duas, ficando a sola pelo caminho. A desgraça obrigou à improvisação, tendo uma providencial ponta de corda, providenciado a precária reparação.

Na cavaqueira lá chegamos ao parque da capela do Sr. dos Passos, onde nos separamos dos companheiros, que ansiavam por ver mais um vitória do glorioso Porto, que desta vez cilindrou o Beira-Mar. Os restantes subiram até ao café de Merufe para retemperar forças, para a tirada final de regresso a Viana.

Uma palavra final para a marcação do percurso, ou melhor, para a sua ausência quase completa! Não fosse o providencial GPS e o velhinho mapa militar e nunca se daria com o percurso. Assim presta-se um mau serviço aos entusiastas da modalidade.

Até breve

José Almeida

Vianatrilhos

Dados do percurso

Informação sobre os aspetos mais significativos:

Data2012-09-22
Tempo de deslocação05h 34m
Tempo parado02h 18m
Deslocação média 3,2 Km/h
Média Geral2,3 Km/h
Distância total linear17.4 km
Nº de participantes33