O passeio foi citadino, através das ruas, becos e praças da zona histórica, para conhecer um pouco o Coração de Viana, tendo-se depois subido Santa Luzia e apreciado as vistas sobre a urbe e redondezas.
Em anexo está a descrição do percurso elaborada pelo Miguel Moreira.
A refeição foi no Bar Montanha, onde se tentou acertar o calendário para 2007/2008, tendo o Luís Gonçalves feito a apresentação da sua colectânea de textos e o Ernesto lido alguns excertos, bem saboreados por todos, já que se encontravam presentes alguns dos intervenientes.
Descido o monte, face ao adiantado da hora, foi a debandada geral.
Pena ter sido amputada a última parte deste passeio, que prometia um belo fim de tarde na beira rio.
Bem-vindo a Viana do Castelo, cidade de luz, cor e som, mergulhada num imaginário simultaneamente real e sobrenatural, da festa e da romaria, do labor e do amor…
A cidade espraia-se entre o rio, o monte e o mar, recortada por um rendilhado geométrico urbano de traça inconfundível assente em paisagens deslumbrantes, pelos seus vales, serras e rios, onde tudo em si é cor, tudo em si é amor…
Visitar a cidade é percorrer um quadro vivo de História e de histórias; é o sentir das gentes, da alma de um povo nobre e aventureiro virado para o mar, a quem também deu novos mundos ao Mundo; é o sentir das tradições, da cultura da arte, um sem fim de emoções; é sentir amor… Não chega apenas falar, é preciso olhar, cheirar, sentir, provar e tocar, para compreender realmente o que nos rodeia. Uma visita torna-se assim um desígnio, quase uma obrigação.
Nesta viagem faremos a uma pequena visita por Santa Maria Maior.
Freguesia urbana no coração da cidade é de facto o centro vital da região. Calcorrear os seus caminhos é viver cada pedaço da sua História, em cada rua, em cada casa, em cada pedra. Pedra essa do mais robusto granito, robusto como as gentes, e com um brilho peculiar, o mesmo brilho do olhar, do olhar de frente desta gente, da vibrante paixão que ela sente… Viana é AMOR.
O nosso Percurso inicia-se na beira-rio junto da Pousada da Juventude, junto ao Parque da Cidade, espaço em plena remodelação, de beleza natural e paisagística ideal para os amantes do desporto. Vamos abandonar as viaturas junto à Pousada da Juventude e aproximar das margens do Lima, desfrutando da paisagem bucólica, do rendilhado da sua marina, do fervilhar do peixe na água, das gaivotas que passam… Deixe-se passear pela doca de recreio, pelas bancadas junto ao rio e desfrute um pouco da calmaria que nos envolve…
Contemple a Ponte Metálica obra de Gustavo Eiffel, e a pequena capela de S. Lourenço do outro lado do rio que assinala o local da primitiva Ponte de Madeira, continue em direcção ao jardim que se avizinha, admirando o seu Coreto.
Rapidamente se percebe da transição que este faz entre o Rio e a Cidade. È sem dúvida um belo e aprazível local, onde poderá descansar um pouco à sombra de frondoso arvoredo. Contudo alguns elementos sobressaem por entre o arvoredo.
Por um lado as típicas fachadas “ribeirinhas” plenas de histórias onde é visível o peso dos anos e por outro algumas estátuas que encantam pela sua fisionomia e simbolismo. Encontrará aqui a Estátua de Viana. Imagem do século XVIII traduz na estética do granito a força da cidade – a beleza feminina da princesa do Lima, qual Atenas no Olimpo e os elementos pictóricos da tradição local – a caravela, demonstrando o espírito empreendedor de um povo de tradições marítimas e os “filhos” da terra que partiram rumo ao desconhecido (João Alvares Fagundes, descobridor das “Ilhas Fagundes”– viveu no século XVI e ficou ligado à descoberta e colonização da Terra Nova – região essa tão cara à dieta gastronómica portuguesa, pela pesca do Bacalhau).
Esta, obra do escultor Joaquim Barbosa (1958), encontra-se agora um pouco mais a poente mesmo junto ao Navio Gil Eanes. Deixemos agora o Jardim em direcção ao casario, podendo admirar algumas dessas moradias, até atingirmos o que resta do antigo convento de S. Bento erigido no século XVI. Siga em direcção do Largo das Almas e Praça Frei Gonçalo Velho. Admire toda a envolvência de um pequeno largo dominado por uma pequena igreja – a Igreja das Almas – que para a História fica como a primeira Matriz de Viana.
As construções do século XX na sua envolvente mirraram a importância deste
espaço; contudo agora os projectos de reabilitação urbana para o centro
histórico espera-se que venham dar a dignidade que este espaço merece.
Siga depois pela rua Mateus Barbosa, R. de S. Pedro onde poderá admirar entre
outras a fachada da casa Costa Barros, uma construção do século XVI com
estilizações renascentistas e a beleza da sua imponente janela Manuelina. No
período medieval, esta rua, foi uma das portas da muralha onde moinhos de vento
salpicavam alegremente a paisagem de campos agricultados no solo fértil do Lima.
Olhando hoje para as construções oitocentistas sobrepostas a esse passado é um
pouco difícil imaginar esse cenário.
Continue pelas ruas estreitas e medievais que espreitam e nos convidam a uma visita. São várias e variadas o conjunto das ruas onde poderá admirar alguns desses edifícios, nomeadamente a R. Prior do Crato, Travessa da Vitória, R. de Viana, Viela da Cova da Onça, R. do Hospital Velho, Rua Grande de onde partiam as diligências rumo ao Porto no séc. XIX, Viela da Parenta onde poderá ver a Casa de Pêro Galego, ou da Caravela, reminiscências da época ogival, e aqueles cativantes dosséis que encimam figuras de uma casa na mesma rua, Travessa do Hospital Velho, Rua Aurora do Lima, Rua do Tourinho.
Falar individualmente de cada uma destas ruas é impossível, senão um atentado ao carácter intrínseco do centro, mas acredite, cada uma delas possui uma vivência e ambiência próprias, fruto dos seus variados e típicos restaurantes, dos seus bares, estalagens, cafés, comércio e das suas gentes. E chegamos à Praça da Erva com o antigo Hospital Velho, de traça românica fundado em 1468 por João Pais Velho que tinha como função abrigar os peregrinos na sua caminhada para Santiago de Compostela – os peregrinos do Jacobeo.
Todo o conjunto que o rodeia é medieval, as ruas, as vielas, o casario, os sons, os cheiros… Por isso, não será difícil para você recuar no tempo e sentir-se na pele daquelas gentes, que tal como eles, caminha em Viana.
Suba agora pela Rua do Poço em direcção da Catedral. Nesta rua outrora, existiu um poço que servia a vila medieval; reminiscências de um passado que já não existe… Repare e demore-se a contemplar as fachadas dos edifícios, os recantos solarengos com a imagem sobranceira da Catedral. Chegamos à Matriz.
Olhe à sua volta e repare nos diferentes estilos que compõem a praça. A Sé Catedral impera sobre tudo que a rodeia e obriga-nos a visitá-la. Construída em 1404, está consagrada a Santa Maria Maior. Foi adulterada pelas reedificações dos séculos XVIII e XIX, sobressaindo, contudo a sua traça gótica do século XV. O arco da entrada está decorado com estátuas dos Apóstolos – típico dos estilos românico e gótico.
Entramos e ficamos envolvidos por uma atmosfera diferente. Mais uma vez, parece que recuamos no tempo e sentimo-nos peregrinos na nossa viagem. Repare na Capela dos Mareantes e admire a miniatura do galeão de Hamburgo, assim como a Capela do Santíssimo, onde pode ver o portal datado da segunda metade do século XVI atribuído a João Lopes Novo. Merece ainda destaque o grupo escultórico – Deposição de Cristo no túmulo datado de cerca de 1530 e originário de Antuérpia.
De novo na Praça da Matriz, repare agora nos dois edifícios que lhe ocupam o campo de visão. À sua esquerda uma casa representativa da arte Manuelina, sobressaindo os motivos decorativos das suas janelas típicas do século XVI e à sua direita de traça medieval, a casa dos Lunas e no recanto do torreão esquerdo da Sé a casa de João Velho, ou casa dos Arcos – construção do último quartel do século XV.
Vire agora à direita para a Praça que se abre à sua frente. À medida que se aproxima deste espaço crescerá em si uma grata surpresa pela beleza do conjunto, acarinhado pela graciosidade do recorte e harmonia das várias construções – a Praça da Republica. Aqui é obrigatória uma visita prolongada e atenta ao expressivo e tríptico de arte deste ex-libris de Viana do Castelo.
Deixe-se levar pelo encanto de cada recanto, e pelas sombras que retocam cada pormenor no agreste granito, pelo contraste de cores e sabores. Pelo fervilhar das gentes, das suas esplanadas, pela graciosidade dos pombos à procura incessante de uma migalha e do seu rodopio infernal do velhinho que as alimenta com milho.
Outrora se chamou Campo do Forno, nos idos da época medieval, passando para Praça da Rainha e, após a queda da monarquia em 1910, Praça da Republica. O conjunto é sem sombra de dúvida majestoso. Do centro, onde se encontra o belo fontanário do século XVI partimos para uma visita em redor a alguns dos monumentos mais ilustres.
Do lado nascente sobressaem dois conjuntos distintos na forma, mas com a mesma beleza – os antigos Paços do Concelho – construção do século XVI de aspecto amuralhado quase rondando o tosco, sobressaindo os seus arcos ogivais no rés-do-chão e do mesmo período, no esplendor renascentista, a Misericórdia com a sua igreja anexa, possuindo o mais valioso conjunto de azulejos existentes em Portugal.
De destacar o conjunto formado pelo Palácio dos Sá Pinto Sotto Mayor do século XVIII, o Palácio dos Távoras, a Casa das Janelas e do lado poente a encerrar este conjunto, o Museu do Traje. Aqui também é obrigatória uma visita demorada mas em outra ocasião. A construção que no passado foi um Hotel e mais tarde o Banco de Portugal, está hoje ocupado por um dos espaços culturais mais importantes da cidade e de toda a região. Visitar este museu é fazer uma viagem a uma cultura ancestral assente numa tradição geracional, como é o trajar vianês, preservando todas as referências que identificam estas gentes em particular e o povo português em geral, levando-nos a captar melhor a sua alma e a sua estética.
Em suma, visitar o Museu do Traje é aprender o que de mais genuíno a tradição popular nos fez chegar e verá que não dará por perdido o seu tempo. Aproveite a passagem por esta praça e veja onde fica um dos clubes mais antigos de Portugal em actividade – o Viana Taurino Clube.
Vire novamente um pouco para a rua da Bandeira e suba as escadas do antigo Paço do Concelho, e poderá ver o pouco que resta da “Muralha da Vila”. Caminhe sob o antigo Portal (Mexia Galvão) dos tempos medievais que dava a mais uma das saídas da Vila.
Siga pela Rua Gago Coutinho e à sua esquerda poderá admirar o esplendor de um edifício de bela traça – o Solar dos Malheiro-Reimão com a sua Capela das Malheiras – constituindo um dos melhores espécimes do barroco português – período Rococó, cunho de arquitecto italiano Nazoni. Mas continuemos agora pela R. do Espírito Santo, Rua da Bandeira, Avenida Rocha Paris, Rua Roque de Barros com a sua original calçada, Rua Major Xavier da Costa, Rua Nova de Santana e Rua Cândido dos Reis.
Com certeza apercebeu-se do conjunto de edifícios de belo corte à sua frente. O palacete dos Condes da Carreira – uma construção dos séculos XVI e XVIII – onde está instalada a Câmara Municipal de Viana do Castelo e um edifício brasonado do século XVIII, o antigo solar da família Maciel, onde se encontra instalada a Biblioteca Municipal.
Siga então pela Rua Cândido dos Reis virando à direita em direcção à Rua dos Bombeiros onde mais à frente e no início da Rua Emídio Navarro poderá ver o Teatro Municipal Sá de Miranda, edifício de traça típica do século XIX. Regresse à Rua dos Bombeiros e do lado Norte admire um dos conventos de maior imponência, o Convento de Santa Ana – construção do século XVI e XVIII.
Vale a pena se puder uma visita aos seus belos claustros e conjunto de azulejos. Um pouco mais à frente dê uma espreitadela à casa Werneck, uma construção do século XIX. Não avance mais e passe sob o portão aí existente (Passamano) e dirija-se para a avenida 25 de Abril, para lá do caminho-de-ferro. Aproveite a passagem desnivelada e dirija-se para o funicular, prepare todos os seus sentidos e aproveite de uma forma plena a subida no mesmo, para um dos miradouros mais deslumbrantes de Portugal – o Monte de Santa Luzia.
No seu cimo foi construído nos inícios do século passado o Templo de Santa Luzia assinado pelo Arquitecto Ventura Terra, de inspiração românica e bizantina assemelhado ao “Sacre Couer de Paris”. Quase que nos sentimos pequeninos à sombra de tal monumento e paisagem. Entramos e ficamos surpreendidos pela sobriedade das linhas e pela beleza dos vitrais.
Não resistimos e somos levados a subir ao seu miradouro – o Zimbório – a 249 metros de altitude que de tão próximo do oceano que estamos, faz-nos levar a pensar que estamos a muitos metros mais.
Daqui poderá ver o Mundo, ou quase – o horizonte parece não ter fim, o oceano espraia-se como báscula da abóbada celeste, nas proximidades o belo recorte das praias litorais, a cidade um pouco mais abaixo e igualmente a perder de vista o Vale do Lima e as Serras na sua cercania.
Tudo parece pequeno, tudo parece tão distante e nós como que a flutuar nesta imensidão. Apetece ficar ligado a esta paisagem para sempre, mas infelizmente temos que ceder lugar a outros visitantes e descer pela estreita escadaria, podendo à saída ver o pequeno museu de Arte-sacra. Mas ainda temos várias coisas para ver e admirar. Nas proximidades das escadarias exteriores da Basílica podemos encontrar alguns fotógrafos que ainda nos tiram uma foto “a la minuta” levando-nos a recuar no tempo às fotos a “preto e branco”.
Explore agora um pouco em redor do Templo e chegará ao jardim das tílias – um repasto para a alma, depois de subirmos pela estrada um pouco acima, chegaremos à citânia ou castro de Santa Luzia, também designado de Cidade Velha – local do século I a.C. que se conserva em razoável estado – onde podemos fazer uma visita e saber um pouco mais dos vestígios de um período da História de Viana. Vale a pena perder um pouco de tempo aqui.
Um pouco mais à frente poderá ainda admirar a Pousada de Santa Luzia, um edifício bastante gracioso que convida a entrar: Aí no seu interior poderá admirar uma bela tapeçaria assinada por Almada Negreiros representando a queda da Lenda do Lethes – mas essas são outras Histórias.
Depois de ter visitado um pouco da “Montanha Dourada”, novamente pelo funicular ou se quiser a pé descendo pelo escadório de várias centenas de degraus, volte novamente à cidade mais propriamente à Estação de Caminho de Ferro, edifício do século XIX, actualmente acoplado ao interface ferro-rodoviario em centro comercial, repare nos aspectos estéticos e arquitectónicos do período moderno culminando um espaço onde se imiscuem dois elementos de períodos e funcionalidades muito diversas. Chega então à Avenida dos Combatentes da Grande Guerra, alvo de reabilitação recente.
Descendo até ao primeiro cruzamento, admire à sua direita uma das casas mais antigas de Viana – O Palacete dos Melo Alvim do século XV. Continue descendo a Avenida reparando nos vários aspectos que a constituem, e no final da mesma, chegará à Praça da Liberdade. Sem dúvida que este espaço o impressionará pelo contraste estético e arquitectónico com a envolvente.
É uma obra recente do século XXI e assinada por alguns dos arquitectos de maior reputação nacional, como é o caso de Siza Vieira e Souto Moura. Aí repare no jogo de elementos dos edifícios públicos e do pavilhão multiusos. Um pormenor chamar-lhe-á a atenção. Falo do monumento erigido ao 25 de Abril de 1974 da autoria do arquitecto José Rodrigues, que também dá o nome à praça, simbolizando as correntes que se quebraram da ditadura que se vivia do Estado Novo e as portas que se abriram para um futuro cheio de esperança. No centro da praça e voltado a Norte com certeza vislumbra no alto, por cima da avenida, o local do monte onde ainda à pouco estivemos.
O dia ainda vai a meio, chegou o momento de alimentar o nosso corpo e repousar a nossa alma, num dos restaurantes da região, mas se quiser e já para o final do dia, na foz do rio, junto a uma das praias ou no alto do monte deixe cair a noite, vislumbrando um pôr do sol lento e fraterno, como é o sentir das gentes da região, da alma de um povo nobre e aventureiro virado para o mar, foi o sentir das tradições, da cultura da arte, um sem fim de emoções; sentir amor… Viana é AMOR.
O dia está a terminar, mas as emoções não se ficam por aqui. Poderá ficar e continuar a descobrir outros e novos recantos – a gastronomia, as vivências, as histórias, as memórias. Não chega, pois falar apenas, é preciso olhar, cheirar, sentir, provar e tocar, para compreender realmente o que nos rodeia. É preciso, sobretudo Amar, pois Viana acima de tudo é…AMOR.
Parafraseando uma das quadras de um dos fados mais bonitos da nossa saudosa diva do fado – Amália Rodrigues: “…Ó Meu amor de algum dia, havemos de ir a Viana…”
Miguel Moreira
Vianatrilhos
Informação sobre os aspetos mais significativos:
Data | 2007-09-15 |
Distância total linear | 8.0 km |
Nº de participantes | 28 |