2004-05-29 Caminho de Santiago

S. Mauro - Esclavitude

A concentração foi na estação de camionagem, pelas 07.00 de um Sábado sombrio a ameaçar chuva.

A partida tardou pela demora de companheiras retardatárias, que nos fizeram esperar quase meia hora, mas esbaforidas lá apareceram, culpando o telemóvel, que não cumpriu a obrigação do despertar.

Cumprida a viagem até Pontevedra, indicamos ao condutor para tomar a N550, até chegar ao local do fim da etapa anterior. Começa aqui uma autentica epopeia, que nos atrasou o início da etapa em mais de uma hora.

O condutor, não deu com a estrada e andamos às voltas, sem rumo certo, até que o Ernesto, demonstrando, mais uma vez, o peso da presidência do grupo, comprou um mapa de carreteras e orientou pessoalmente a navegação.

O que nos valeu foi que, enquanto andávamos às voltas, nos safamos de uma forte bátega, acabando o azar por se transformar em sorte.

Reiniciamos pelas 11.00 junto do Km 103 da N550 em Cruceiro.

Há que destacar neste trajecto a pequena igreja de San Martín de Agudelo, em Barro, de princípios do século XIII. O templo mostra até onde chegou, no meio rural, a influência do Mestre Mateo.

Passando o bonito núcleo de Tivo, chegamos a Caldas de Reis, a Aquae Celenis do Itinerário Antonino (via romana), banhada pelos rios Umia e Bermaña. Destaque para a igreja de Santa Maria de Caldas, construção de princípios do século XIII.

No casco antigo da vila encontra-se a igreja de Santo Tomás Becket, único templo galego dedicado ao santo arcebispo de Canterbury, assassinado no interior da sua catedral, ao pé de um dos altares, por cortesãos do rei Enrique II de Inglaterra. Tomás Becket foi em peregrinação a Santiago em 1167, fazendo uma paragem na vila de Caldas.

A ponte sobre o rio Umia aproximou-nos da fonte de águas termais que dão nome à vila desde a época romana. Seguimos pela rua Real e cruzamos a Ponte Bermaña, peça medieval de enorme encanto, alcançando o vale do rio Bermaña, rodeado por bosques centenários.

O Caminho atravessa o vale envolto em bosques centenários, e inicia uma suave subida para chegar ao conjunto de Santa Maria de Carracedo, constituído por igreja, casa reitoral e espigueiro (hórreo). Depois continuamos pelos lugares de Casal de Eirixio e O Pino e penetra de novo em bosques profundos.

O almoço acabou por ser feito em O Pino, perto de Outeiro, onde o grupo se separou, comendo do farnel ou não, conforme a vontade dos participantes.

Depois de agrupados, seguimos para San Miguel de Valga.

Deixando a Este os lugares de Pedreira e Cimadevila, deixamos atrás Valga e atravessamos as aldeias de Cabaleiro e Fontenlo para chegar, através de pinheiros, a Condide.

Depressa alcançamos Infesta, em Cesures. Pela rua de Coengos, a igreja românica de San Xulián de Requeixo indica que estávamos já próximos da ponte de Cesures – Caesarobriga o Caesarobrix, obra de origem romana, com restos do século XII, muito reconstruída e restaurada nos seus dois mil anos de história.

Passada a ponte, a rota continua até Padrón. Na outra margem do rio, o Caminho conduz à celebre vila onde atracou a barca que conduziu o corpo de Santiago o Maior desde Jaffa (Palestina).

Entramos em Padrón junto ao mercado municipal. Ao fundo da alameda a igreja de Santiago de Padrón, de austero neoclassicismo, guarda testemunhos dos tempos precedentes, um púlpito gótico, com a imagem de Santiago Peregrino, pertencente à igreja do século XV que mandou construir o arcebispo Lope de Mendoza.

Estes templos medievais, vencidos pelo passar do tempo, já guardavam no seu presbítero a peça mais jacobea da vila: “el Pedrón”, interpretada como ara romana dedicada a Neptuno e na qual, segundo a Tradição, atracou a Barca de Pedra que havia transportado o corpo do Apóstolo e a seus discípulos Teodoro e Atanasio. Na Alta Idade Média usou-se o “Pedrón” como base da ara do altar da primitiva igreja dedicada a Santiago, levantada pelo bispo Teodomiro no século IX.

O Caminho cruza as ruas de Padrón, mostrando ao Peregrino o seu património histórico. Um dos edifícios mais notáveis é o convento de Carmen, construído entre 1717-57 sobre um promontório, do outro lado do rio Sar. A seus pés está a fonte de Carmen, em cuja frente se lavrou a cena da transladação do corpo do Apóstolo de Jaffa para Iria Flavia. No seu cimo está representado o baptismo da rainha Lupa por Santiago o Maior, cena que evoca a evangelização destas terras pelo Apóstolo.

De caminho até Iria Flavia, deixamos para trás o casco histórico de Padrón. Só dois quilómetros restam para chegar à Colegiata de Iria que evidencia também a devoção mariana ao Caminho Português. É de origem alto-medieval, todavia podemos ver no seu redor vários sarcófagos.

Foi reconstruído várias vezes pelos bispos Cresconio que trocou sua devoção pela de santa Maria e Diego Peláez, promotor da catedral românica de Santiago.

Gelmirez restaurou seu esplendor no século XII, dando-lhe a categoria de Colegiata. No século XIII o templo foi reconstruído com plano basilical. Da época medieval conserva a porta ocidental, lavrada nos princípios do século XIV.

Saindo de frente da Colegiata de Stª Maria de Iria, o encaminhamo-nos para A Escravitude seguindo um troço de 3 km.

Aí chegados, com mais de 30 Km nos pés, decidimos pôr fim à etapa.

Carimbados os passaportes viemos de camioneta para Caldas de Reis, onde estava marcada a janta e a dormida.

Depois de um bom banho, lá nos encontramos no jantar, com alguns amigos que se nos juntaram, para em alegre convivência, celebrar mais uma etapa nesta mítica jornada para Santiago.

A festa foi rija e teve a participação do Grupo Musical da SIRC, que com os seus cavaquinhos, violas e concertina, animou os convivas com uma magistral actuação.

José Almeida

Amigos da Chão

Dados do percurso

Informação sobre os aspetos mais significativos:

Data2004-05-29
Tempo de deslocação06h 29m
Tempo parado02h 14m
Deslocação média 4,8 Km/h
Média Geral3,6 Km/h
Distância total linear30.7 km
Nº de participantes45