Partindo de junto da igreja de Arga de Baixo, tomamos a estrada de alcatrão em direcção a S. João D'Arga, para logo após termos feito a íngreme subida, tomamos um trilho pelo nosso lado esquerdo saindo da estrada. Passamos pelo "Alto do Colo" e "Alto da Faia", locais de onde podemos admirar uma larga paisagem com o convento de S. João D'Arga a nossos pés.
Ao chegar a um estradão florestal, logo um pouco mais à frente viramos à direita, iniciando uma descida que nos levará até à "Chá do Guindeiro", local em que começamos a subida que nos levará até "Outeiro de Mós" (736m.) e "Pedra Alçada" (742m), deslumbrantes miradouros da Serra D'Arga.
Retemperamos as forças no interior da torre de observação dos Serviços Florestais, onde nos abrigamos da chuva impiedosa que começou a cair fortemente.
No regresso chegados novamente à "Chá do Guindeiro", tomamos o caminho à esquerda, acima do trilho de romeiros, que não utilizamos, face às adversas condições atmosféricas, que nos levou a visitar o convento de S. João D'Arga.
Ao longo de todo o percurso é de realçar as maravilhosas vistas sobre a Serra.
Miguel Moreira
Inatel
Fica a Serra d'Arga situada no Alto Minho e incrustada entre os vales do Lima e Coura numa extensão de cerca de 20 quilómetros no sentido Este-Oeste, ramificando-se por todos os quadrantes geográficos em diversas elevações com os mais variados nomes. Abrange áreas pertencentes aos concelhos de Caminha, Viana do Castelo, Ponte de Lima, Vila Nova de Cerveira e Paredes de Coura. Tem uma altitude de 840 metros o que a leva a impor-se pela sua imponência, aridez e grandiosidade. O granito e o xisto são as rochas que a cobrem, dando-lhe uma paisagem serrana agreste e ao mesmo tempo encobridora de ouro e de prata, que os romanos exploraram, do volfrâmio que durante a guerra matou a fome a muita gente.
A época das chuvas, entre Novembro e Março, pode causar uma precipitação até 1800 mm. Os nevões são frequentes, acontecendo que há anos em que a Serra permanece coberta de geada durante alguns dias e as temperaturas são, nestas ocasiões, muito baixas, fazendo com que o lobo desça aos povoados à procura dos rebanhos, sobretudo de noite.
Pelo contrário, no Verão, há temperaturas muito altas e verifica-se um clima seco. Dai a grande amplitude térmica nesta região, favorável a alguns tipos de fauna, como o coelho bravo, a perdiz, o javali, o lobo, a raposa, etc.… e aos animais domésticos habituais.
A par desta fauna, aparece a flora indígena: sobreiros mansas e bravos, carvalhos, castanheiros, os louros, as faias e as giestas são o sinal mais evidente deste selvagem crescimento florestal com zonas bem demarcados pela acção dos Serviços Nacionais das Florestas que há 50 anos deram à Serra outra imagem, transformando um pouco a sua geografia, a flora, e condicionaram mais algumas tradições ancestrais dos povos aqui radicados.
Ali, nascem muitos ribeiros, além do ria Coura que desagua na foz do Minho e do ria Âncora que desagua directamente no mar.
Encontram-se nesta Serra boas nascentes e é vulgar ouvir-se dizer que as águas deliciosas das suas fontes são medicinais. Em tempos não muito longínquos, era vulgar gente de Caminha e Viana ir às Fontes da Urze e das Águas Férreas buscar água para tratar os males digestivos, receitada por médicos distintos.
Há documentos da passagem do homem pela Serra. Conhecemos da pré-história, hieróglifos da Igreja dos Mouros, na Costa do Carvalho, assim como temos cerâmica castreja e romana e um símbolo fálico. Sob o Alto da Coroa, existe o penedo das Ferraduras.
Os hieróglifos já foram motivo de estudo e de informação por Lourenço Alvas no "Notícias. de Viana" e, os outros documentos, no Boletim Cultural, do Centro de Estudos Regionais, n.º 1, de 1884.
Paulo Osório, historiador bracarense do século IV, referindo-se à conquista da Península Ibérica, Iniciada no século III, quando tiveram de ser vencidos os Celtiberos, os Galaicos e os lusitanos, diz que os Galaicos, situados entre o Mar Cantábrico e o Rio Coura, fizeram a vida muito difícil aos Romanos. Devido à sua resistência, estes cavaram um fosso bem fundo no Monte Medúlio, última reduto desses povos autóctones, para os fazer render pela fome. No entanto, foi um projecto romano que falhou, pois continuaram a manter tão grande resistência que se suicidaram colectivamente, para se não entregarem na mão dos conquistadores.
Acontece que a localização tem merecida algumas dúvidas, pois alguns historiadores querem ldentificá-lo com um monte junto ao Rio Minho, e Pinho Leal, com base no texto de Paulo Osódo, localiza-o na Serra d'Arga. Historiadores galegos há que pretendem afirmar que o Monte Medúlio corresponderia ao Monte S. Julião, perto de Tuy.
O topónimo Monte de Arga aparece num documento do século XI, onde o Monte de Arga era limite do Couto de Vitar de Mouros.
Mais tarde, no século XIII, as inquirições fazem referência ao mosteiro de S. João d'Arga.
As raízes históricas desta região das Argas estão provadas por estes registos serem bastante antigos. Foi no seu seio que em tempos imemoriais existiram diversos conventos, sobretudo da Ordem Beneditina, e o afamado Mosteiro Máximo, segundo alguns autores, fundado no séc. VII por Sisebuto I ou S. Frutuoso.
No séc. XI, D. Femando de Leão refere-se a este mosteiro, que possuía um grande couto.
No séc. XIV, existem novamente referências ao dito mosteiro e, no séc. XVI, um documento fez com que passasse a abadia secular, embora contra a vontade do Papa Sixto IV.
Foi por esta altura que os marqueses de Vila Real começaram a apresentar os abades deste mosteiro, até meados do séc. XVII.
Salpicada esta Serra de eremitérios pobres e de anacoretas, servindo-se de buracos e covas naturais que existem nos montados, foi ainda e é berço de animais ferozes, como o lobo, e aves de rapina, como águia real, mochos …
Devida a estes e tantos outros factores. Trata-se de uma Serra lendária e é conhecida por Montanha Santa.
De facto, o mosteiro de S. João d'Arga, a capelinha de Stª Justa. a capela do Santo do Chocalho, a capela da Senhora da Serra, a capela de Stº Antâo são sinais evidentes de que o sagrado enalteceu durante séculos esta zona.
O S. João d'Arga venera-se num templo que marca nitidamente quatro épocas. Uma, possivelmente anterior ao românico, por várias indicações da estrutura da capela-mor, quanto à altura, comprimento e parede; outra, a românica, como se pode verificar pelos portais laterais românicos incrustados no princípio do corpo do templo e imediatamente a seguir à capela-mor, com a respectiva cornija e modilhões com cachorras.
Localiza-se junto ao ribeiro de S. João, ao fundo do Chão do Guindeira, entre o Alta da Coroa e os Montes das Casarolas, numa região fortemente castreja e lendária. Assim, temos topónimos indicadores de castros, como: Alto da Coroa, Castro do Germano, Casarolas, Alto dos Muros, Castro Grande, Castro Pequeno, Su-Castro, Entre-Castros, etc.…
S. João apareceu junto ao ribeiro de S. João d'Arga e lá fizeram a capela.
No meio de árvores seculares, ergue-se esta capela que foi, em tempos passados, matriz de Covas a de Argas. Isto está fresco na tradição do povo, pois ainda se diz que o cemitério de Covas era em S. João d'Arga.
A capela encontra-se muito adulterada, é de cunho simples e pequena, integrando-se, como tantas outras capelas, tão frequentes no mundo rural, no estilo dos pequenos templos medievais. Sofreu várias alterações e aumentos, que fizeram dela uma capela sem personalidade ou quase sem estilo.
A edificação é nitidamente românica, conforme verificámos pelas duas portas laterais, pelo arco da entrada na capela-mor, na cachorrada da cornija; ainda
vemos uma cabeça de boi e um rosto humano.
O seu interior é nitidamente barroco, com altares de pedra imitando a talha dourada, com imagens de pedra, pintadas, e a frente da capela com mais um aumento dos fins do século XVIII ou princípios do século XIX, como tantas outras capelas e igrejas do Minho…
A fachada da capela é do século XVIII.
Os "artistas barrocos" introduziram altares de pedra, aliás, matéria-prima que não falta na região, imitando a talha dourada, e imagens igualmente de pedra e pintadas. Este tipo de construção é muito vulgar nos templos da Serra d'Arga: Por exemplo, em Dem, temos a Capela da Senhora da Serra e a de Santa Luzia.
Na década de 60 deste século, o padre João da Silva oliveira levou avante algumas obras de restauro, tentando alcançar o estilo primitivo da obra; por isso, abriu zelosamente a porta do lado sul, que tinha sido fechada e descobriu as paredes até onde pôde.
Com todas as alterações sofridas ao longo dos tempos é possível que se tivesse destruído, por ignorância, a austera simplicidade de um pórtico de entrada, se imaginarmos um templo românico perfeito ou acabado, embora pobre, como deviam ser todos os templos nesta região.
No exterior, em redor da capela, existe um pequeno muro de meio a um metro de altura feito com pedras fincadas, trazidas da Torre de Vigia, em 1977, que marcam o percurso daqueles que fazem promessas. Até essa data, era um arame zincado que passava por esteios afincados a fazer a divisória.
À volta do adro, existem os quartéis do lado poente, norte e sul, com grandes varandas medievais, onde se albergam os romeiros, as bandas de música, os mordomos, o padre, que vão à festa nos dias 28 e 29 de Agosto.
São dois edifícios corridos em forma de "L" à volta da capela, ao som do adro da mesma, de granito, com dois pisos maciços. No piso superior, cujo acesso é feito através de várias escadas exteriores, há uma varanda virada para a capela que corre de extremo a extremo, e onde são as entradas para os quartos que têm uma janela muito pequena e um monte de palha, a um canto, para servir de colchão a quem não gosta do chão. No piso térreo, instalam-se os vendedores, aquando das romarias. Estes quartéis são de construção posterior à capela, embora não sejam todos contemporâneas uns aos outros…
Entre os quartéis e a capela, do lado sul, existem dois coretos que servem para as bandas de música por ocasião da Romaria. Sob uma das varandas do lado sul, existe um sarcófago que está a fazer de pia e que fora encontrado, em tempos, no adro.
Quando se abria a vala para afincar as "anteiras" à volta da capela foi encontrada uma pedra com a inscrição, mas a capela está incompleta.
Também no rés-do-chão do quartel do lado sul, existe numa ombreira duma porta outra inscrição difícil de decifrar …
Uma das transformações feitas, foi o desvia dum caminho que passava pelo lado sul da capela junto a uma. porta, onde dizem ter estado um monge sepultado a dar mau agouro às pessoas e aos animais. Essa sepultura não podia ser calcada pelos animais, porque, ao calcá-la, ficavam endiabrados, aos saltos, sem que ninguém os pudesse segurar. Por ordem de Frei Bartolameu dos Mártires em visita que fez ao local, foi mandado desviar o caminho e fechar a porta.
De facto, conheci a porta aberta para uma dependência de recolha dos ex-votos, e ainda há quem se lembre de ter sido reaberta a referida porta, muito linda, românica, para a espaço que conheci reservado às esmolas. Foi no meu tempo que foi retirada essa dependência, voltando aquela parte do lado sul ao seu estado original, sem haver perigo de pernas partidas! Tanto os animais como as pessoas já não ficam endiabrados.
Ainda hoje, a capela de S. João d'Arga é o coração das povoações serranas. Ela está em território de Arga de Baixo, é administrada pela Comissão Fabriqueira da Paróquia de Arga de S. João, mas as três Argas revêem-se cultural e historicamente naquela monumento.
Diz-se que a referida capela foi igreja do Convento Beneditino existente na Serra d'Arga. Existe na tradição daquele povo essa memória e são vários os historiadores que se referem a este facto, como: João Romano Torres, Pinho Leal, Pe. Amónia Carvalho da Costa e José Augusto Vieira.
Diz-se ainda que iam para aquele Mosteiro Beneditino, os sujeitos a sanções disciplinares, obrigados pelas superiores a viver ali no desterro temporariamente, daí teriam derivado os aumentos na capela e o aparecimento dos primeiros quartéis. O alargamento da capela e a fundação dos quartéis se o deve ao aumento dos fiéis que iam cumprir as promessas e tinham que repousar ou pernoitar por lá.
O número de quartéis foi sempre insuficiente e continua a ser para o número de fiéis, provenientes de Barcelos até Valença, que vão a S. João d'Arga. Servem só para as mais idosos e para as crianças repousarem, já que os outras dançam durante toda a noite e, como já não têm lugar para pernoitar num quartel, enrolam-se em mantas e dormem ao relento.
Artur Coutinho
Mosaicos da Serra D'Arga
Esta freguesia não será de origem tão remota como Arga de S. João. Deveria ser só um lugar de Covas que se desanexou, mais tarde que Arga de S. João e antes de Arga de Cima, com a paroquial em S. João d'Arga. A primeira igreja paroquial era bastante mais recente que a anterior de Felgueiras. Próximo da Igreja e do cruzeiro, existem ainda algumas bases e cruzes do Calvário antigo.
Não quer dizer que não seja antiga a povoação existente, que terá dado origem a esta freguesia. Claro que sim e aí estão os castros a dizê-lo.
Actualmente os lugares principais são: Castanheira, Verziela e Arga de Baixo, propriamente dito. No entanto, o sítio povoado mais antigo em Argo de Baixo era o Marco. Na zona dos Castros, não há habitantes, nem sinais que pareçam. Em Castanheira, o Sítio do Castelo, referido nas inquirições de D. Afonso III, e o lugar da Corga, seriam os locais povoados com mais idade.
Em Castanheira, existe uma capela, a Capela da Senhora da Rocha, que mantém uma certa coesão entre os habitantes do lugar.
Artur Coutinho
Mosaicos da Serra D'Arga
Informação sobre os aspetos mais significativos:
Data | 2000-04-15 |
Distância total | 13 km |
Nº de participantes | 25 |