1999-12-18 Ao encontro das raizes do Rio Âncora

Este nosso percurso, que contou com 33 participantes, começou na freguesia de Amonde junto à Ponte de Tourim, local de antiga via romana, tendo feito parte de uma das mais importantes vias dos "Caminhos de Santiago". Era também local de realização dos célebres "Baptizados de Meia Noite" na crença popular para afastar os maus olhados sobre mulheres de parto difícil.

Seguimos sempre próximo do Rio Âncora, ao longo da sua margem esquerda, passando a espaços por velhos moinhos em avançada degradação, testemunhos vivos de gerações. Mais acima passamos no sítio da "Ferida Má" local que nos lembra um recanto de paraíso, em contraste com o nome, com uma queda de água e um poço de grande profundidade (estamos no Pincho).

Continuando encontramos mais acima e na margem contrária oportunidade para verem belo trecho de campos de cultivo em socalcos, pertencentes já ao lugar de "Trás Âncora". Chegamos de seguida à estrada de alcatrão em Espantar. Viramos à direita na referida estrada para irmos ao encontro dos conhecidos "Moinhos de Espantar" alguns ainda em funcionamento. Aqui saimos da estrada junto dos referidos moinhos virando à esquerda tendo pelo nosso lado todo o vale do rio.

Chegamos assim ao viveiro do parque florestal de S. Lourenço, e após termos passardo a pequena ponte sobre o rio Âncora encontramos o parque formado por um bosque de árvores com alguns exemplares de carvalhos, castanheiros e pinheiros mansos.

Iniciou-se então a subida pelo caminho que contorna o arvoredo em direcção ao "Outeiro das Cabras".

Já sobre a "Encosta da Branca", podemos desfrutar do panorama sobre o vale do Âncora e, especialmente sobre os campos cultivados em degraus, da aldeia de Trás-Âncora. Adiante o caminho descreve uma série de curvas com difícil subida, até chegar perto do "Regueiro da Lapa Ladrão". Neste local se fossemos em direcção Oeste pelo vale que aparece à nossa esquerda, iríamos ter ao convento de S. João D'Arga, local em que de 28 para 29 de Agosto acorrem de todo o lado romeiros dispostos a passar uma noite inesquecível na romaria das mais típicas do Alto-Minho, com ofertas com que "compram" as boas graças do Santo. Na romaria de S. João D'Arga também não se esquecem as dádivas ao "Senhor Diabo", não vá o infortúnio bater à porta. "Pedir ao Santo com um olho no Diabo".

O nosso destino foi outro e assim atravessamos o referido ribeiro na direcção Norte passando sobre um pequeno pontão e alguns metros mais à frente, encontra-se do lado direito, um bosque bem conservado de cedros, carvalhos, castanheiros, pinheiros silvestres e abetos que abrigam uma fauna rica e variada: até esquilos que vindos da Galiza, recuperaram recentemente esta zona da sua antiga área de distribuição.

Tendo a encosta rochosa pelo lado esquerdo e o bosque do "Porrilhão" à direita (local em que se pretende construir nina mini-hídrica), descemos o caminho de lages de granito em direcção ao "Regueiro dos Enchurros". No percurso e se Inverno, observe-se o terreno coberto de pequenos tufos de erva "os cervais" típicos das zonas de maior altitude.

Atravessamos então o ribeiro (não deixe de observar à esquerda uma queda de água, local em que com bom tempo se poderá tomar um banho) seguimos o caminho que sobe até atingir a estrada de alcatrão, e aí virando à esquerda continuamos em direcção da Senhora do Minho.

Conforme fomos subindo podemos admirar para Norte, a encosta rochosa da serra e as linhas de água que a atravessam. Para Poente, vê-se o vale do Âncora que se vai estendendo até ao mar. Nestes locais não será raro observar algumas aves de rapina.

Chegamos, após uma curva acentuada ao local da "Fonte da Cavada", local em que a estrada de alcatrão é atravessada por uma calçada em lages de granito. Lá em cima vê-se, no sentido Norte, a casa florestal em estado de abandono, local de larga paisagem.

Descermos através da calçada ao longo da "Encosta do Curral" sempre com a vista a estender-se pelo horizonte em direcção à povoação de Montaria e vale do Âncora, onde chegamos junto a outra casa florestal, atingindo depois o largo central da aldeia, término deste nosso percurso.

Na aldeia de Montaria, local em que se podemos descobrir urna enorme riqueza etnográfica com aspectos comunitários, não se perdemos a oportunidade de visitar a igreja paroquial com notável talha, azulejaria, alfaia liturgica e o presépio de Machado de Castro.

Miguel Moreira

Inatel


MOINHOS DE ÁGUA

O QUE SÃO:

Os moinhos, como outros tipos de engenhos, são o resultado de todo um processo histórico longo em que a utilização desta energia alternativa (a energia hidráulica) permitiu e identificou a arte do desbravar da natureza.

O rio e a terra tornaram-se o cenário complementar deste "povo em movimento" com uma realidade dinâmica evolutIva; nessa evolução as mudanças foram lentas e profundas criando raizes culturais demasiado vincadas e difíceis de se deixar "colonizar" com os novas formos de estar "aparentemente" mais prometedoras de felicidade.

É assim que os moinhos são a herança cultural dos nossos antepassados que além da sua riqueza etnográfica, nos dão a identidade de um povo que devido ao seu isolamento conseguiu a sua auto-suficiência. Utilizando a energia hidráulica para ultrapassar certas dificuldades que tinham de ser vencidas. É esta identidade cultural bastante profunda, que deve ser mantida, a fim de se tornarem peças de um ecomuseu Municipal.


CARACTERÍSTICAS - ORIGENS

Foram um factor de desenvolvimento destas freguesias Os moinhos ainda hoje em laboração quase industrial, são documentos vivos e dão a imagem de um passado recente em que o rio, a terra e o homem eram imagens deste Vale.

Os da bacia superior (zona montanhosa) eram pequenas casinhas com paredes de xisto e ou granito e beirado em lajeado e cujo sistema motor era uma roda motriz de madeira (rodízio fixo à pela) - (Moinhos de Montanha).

A maioria dos moinhos existentes no margem do rio Âncora são pequenos ou mesmo minúsculas instalações de exploração familiar, mais vulgarmente, de consertes, com uma só moenda, não dispondo de moleiro qualificado. de construção extremamente rústica, tem normalmente um só postigo além da porta de entrada de dimensões reduzidas que não ultrapassa 1,70 m de pé direito e não possuem quaisquer divisórias, nunca servindo de habitação (moinhos de montanha).


OS ULTIMOS RESISTENTES.

Moeram cereais de gerações sem fim. São um importante legado das gerações passadas. Os antigos moinhos de água representam a perfeita simbiose do homem com a natureza. A bacia hidrográfica do rio Âncora está repleta destas marcas de um tempo em que o desenvolvimento das populações se fazia sem a destruição do ecossistema. Talvez seja por isso que têm os dias contados.

Remontam ao Paleolítico, nas culturas pré-agricolas, a descoberta da possibilidade de esmagamento entre duas pedras de certos frutos e cereais. Por volta do ano10.000 A.C., a trituração passou a ser feita com o recurso do almofariz e ao pilão de pedra. O moinho manual só apareceria em finais do Il milénio A.C..

Em Portugal, foi na orla litoral do Minho que estes engenhos tiveram maior difusão. O cultivo intensivo de milho, centeio e trigo foi em grande parte responsável por este fenómeno.


PONTE DE TOURIM – AMONDE

Sem dúvida que as pontes são os principais vestígios materiais das antigas vias romanas e medievais. Pelo território do concelho de Viana do Castelo passavam importantes vias romanas, como é o caso da célebre Per loca marítima referenciada no itinerário de AntonIno.

Esta via, saindo de Bracara Augusta (Braga) passava o Cavado e depois o Lima, sulcando todo o Concelho Vianense até ao Âncora, que era atravessado pela ponte de TourIm. Esta ponte, que possuí ainda parte das suas fundações romanas, foi reconstruida na época medieval, tendo feito parte integrante de um dos mais Importantes Caminhos de Santiago, trilhado por milhares de peregrinos e fundamental para o desenvolvimento económico desta região.

A ponte actual, embora mantenha a sua traça medieval, nomeadamente o perfil em cavalete, corresponde já a uma reconstrução da Idade Moderna, possivelmente entre os Secs. XVII e XVIII.

Os textos apresentados foram recolhidos em obras diversas

Dados do percurso

Informação sobre os aspetos mais significativos:

Data1999-12-18
Distância total13 km
Nº de participantes33